segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Capítulo 22

Casa dos tios, 02 de Janeiro de 2012.

A garota de olhos claros acordou cedo. O barulho da movimentação das pessoas na casa e o sol entrando pela janela a fizeram se esforçar para abrir os olhos.
Ela viu a hora, ainda era cedo, deitou-se em seu colchão outra vez e tampou a claridade com a coberta. Sua gatinha, presa no quarto com ela, pulava e corria de um lado para o outro, espreitando a movimentação pela janela, ansiosa por sair também.
Algum tempo depois, a garota se levantou. A mesa do café da manhã ainda estava posta e ela sentou-se para comer, após ter se trocado e colocado a ração da gatinha. Ela terminou de comer e foi para o sofá, tentar passar o tempo.
Ela sentia-se só. Uma caminhonete, alguns conhecidos, iam e voltavam de sua casa trazendo coisas enlameadas que, de certa forma, poderiam ser salvas. Voltaram na hora do almoço. Sua mãe contou a ela a situação. A casa estava completamente enlameada. Muita coisa se perdeu. Na parte mais baixa, a água chegou a 2,10 metros.
Ela quis ir ver, quis ir ajudar. A mãe não deixou. Disse que os parentes, alguns conhecidos e amigos, tinham ido ajudar. Logo, eles voltaram, deixando a moça à sós na casa outra vez.
A garota de cabelos castanhos chorou, queria desabafar, mas sabia que o caderno que guardava embaixo da cama havia ido pro lixo. Seus poemas, suas histórias, tudo perdido. Ela procurou pela casa, não encontrou uma folha que pudesse usar. Encontrou uma caneta azul que ficava ao lado da agenda de telefone da tia. Pensou em arrancar uma página, mas também pensou que não seria certo. Voltou à mesa, pegou um guardanapo de papel que ainda restava no pacote após o almoço. Escreveu, ali mesmo, o seguinte:
"É muito difícil você olhar para trás e ver que à dois dias sua vida estava como deveria estar e que, no dia seguinte, não havia mais nada. Pra alguém, como eu, que não via a hora de 2009 acabar, o dia 1º de Janeiro de 2010 foi traumatizante.
A chuva que não parava, água por todos os lados, levando embora tudo que eu tinha e gostava. Não gosto de admitir, mas as águas levaram também algo ainda mais precioso: minha esperança.
Eu tinha esperança que em 2010 minha vida fosse mudar, mas recomeçar tudo do zero não estava nos planos.
Você sabe qual é a sensação de perder algo que estava com você por sua vida toda? Bom, não sei explicar, mas é quase como se um pedaço de ti tivesse desaparecido. Todos te dizem que o importante é você estar vivo e bem, que os bens materiais você conseguirá novamente. O que ninguém para pra pensar, antes de dizer isso, é que você pode estar vivo, mas perdeu parte da sua vida ali e que, bens materiais podem sim ser recuperados, mas aquilo que tinha valor sentimental, aquilo que te era especial e que você guardava com todo carinho, nada vai substituir.
Hoje é dia 2 de Janeiro de 2010, estou na casa dos meus tios, usando roupas emprestadas e tomando conta da minha gatinha, a Milly, que ficou muito assustada com tudo isso e ainda está estranhando um pouco a nova casa em que está. Eu estou aqui sozinha, passando o tempo, escrevendo minha triste história em um guardanapo, enquanto meus tios, minha prima, mãe e padrasto estão lá em casa, tentando salvar o que sobrou e jogando fora o entulho que as águas deixaram depois de baixar.
A cidade de Guararema, onde nasci, mas nunca tive muito orgulho de morar, está vivendo sua pior catástrofe: Morros desmoronaram, casas foram inundadas, pessoas morreram, a cidade ficou isolada, alguns lugares (como aqui) estão sem luz desde ontem à tarde.
A situação está feia e estou bem desanimada, talvez esteja um pouco mais forte que ontem, depois de ter chorado um dia inteiro, mas ainda estou desnorteada.
Estou com saudade da minha vida e das coisas que sei que não terei mais. Pra falar a verdade, estou com vontade de sumir.
No momento não tenho planos e nem mesmo sei mais o que fazer diante de tudo isso. Bem, eu queria uma "vida nova", vou ter que me esforçar para construí-la agora. Eu queria "mudar" minha vida, bem, agora eu poderei fazer dela o que "bem entender".
Não vai ser fácil, mas agora é seguir em frente, porque atrás de mim...não restou nada."


As lágrimas que brotavam dos olhos da garota molharam algumas partes do guardanapo, borrando de leve a tinta da caneta que havia ali.
No final do dia, tudo o que era possível ser resgatado, estava no quintal da tia, manchando tudo de marrom, o barro com um cheiro forte de sujeira. Com ajuda da tia, da sogra do irmã e da cunhada, aos poucos tudo foi sendo lavado, sendo selicionado entre o lixo e uma segunda chance. Foram tempos difíceis mas, aos poucos, eles se reerguiam.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Capítulo 21

01 de Dezembro de 2009, Dia Ano Novo.

A mocinha de olhos verdes preparou-se para o Ano Novo. Estava ansiosa pela entrada de 2010. Sentia que sua vida iria mudar.
Ela e a mãe se aprontaram, o irmão passou a tarde, com a cunhada e a sobrinha, até então ainda uma, para levarem-nas até a casa da sogra dele. Deixaram o mala do padrasto em casa, com a princesinha da casa, a gata Milly. Ia ser uma noite como outra qualquer de virada.
Na casa da sogra dele havia a festa de aniversário, pois o irmão de sua mulher fazia aniversário no dia 31. E assim foi aquela noite, os parabéns, conversas, orações, os fogos, comemorações, desejos e promessas pro ano novo. Por volta de 2 da manhã, as duas já estavam de volta em casa, sendo deixadas pelo irmão/ filho no portão.
O dia seguinte também foi como outro qualquer. Pelo menos até cerca de duas da tarde. Mas não adiantemos a história. Naquela manhã, a mocinha acordou tarde, tomou café. Por volta das 13:00hs ela almoçou, sua mãe havia feito pavê, uma guloseima a qual a garota gosta muito. E então foram assistir filme. O filme escolhido para aquela tarde foi Bastardos Inglórios, com um ator que ela gostava muito, Brad Pitt.
Elas se acomodaram, a jovem deitada em sua cama, a mãe no sofá de dois lugares que tinha no quarto da filha. O filme começou, mas não durou muito. Cerca de 14:00hs, começou a trovejar, o céu escureceu. Viria chuva feia.
Rapidamente as duas tiraram o filme, desligaram a televisão e a mãe partiu pegar alguns panos e tapar os ralos do banheiro e o padrasto a erguer algumas coisas que ficavam próximas do chão. Nas últimas semanas a casa havia enchido alguns poucos centímetros na chuva forte. Esperaram.
A chuva veio forte, mas logo em seguida ficou mais fina e fraca. Parecia uma garoa. Porém, o terreno ao fundo da casa alugada estava cheio. A casa ainda nada. Esperaram. Foi quando notaram que havia algo de errado. A água nos fundos estava bem mais alta que o de costume, e avançando. O terreno, que era mais baixo nos fundos, onde passava um córrego, ia subindo gradativamente até a frente. A casa era geminada, o filho da dona morava com a mulher onde dava para a frente do terreno. A entrada da casa da garota de cabelos castanhos era no corredor lateral. A garagem e o portão que davam para a rua, eram ainda mais altos, logo após uma pequena escada de uns 15 degrais em um morrinho onde ficava o jardim.
Olhavam pela janela do banheiro ou dos quartos, a água já estava na lavanderia da casa, já havia passado à muito o fogão de lenha da dona da casa. E nada de água ainda do lado de dentro. Estranharam. O padrasto saiu e trancou a porta lateral da cozinha, vedando com panos e madeira, depois pulou a janela do quarto da garota. Ela estava assustada. Todos estavam.
Foi então que aconteceu. A água subiu até quase o nível da janela do quarto de sua mãe. Os dois, mãe e padrasto, não se mantinham parados, colocando para o mais alto possível, tudo que consideravam importante, televisões e caixas com documentos, arrancaram os colchões das camas, ergueram-os com as cadeiras sobre a mesa da cozinha, quase no teto, e ali em cima colocaram mais coisas. Mas a água não esperou.
A jovem estava no quarto quando ouviu o barulho da tranca da porta da cozinha ruindo. A água invadia rapidamente o lugar, enchendo a casa da parte alta do terreno para a baixa. O padrasto colocou um bujão de gás em frente a porta, mas ele não suportava a força da água. A jovem foi designada a ficar, com todo o esforço possível, segurando e embarreirando a água, até que tivessem tempo de tirar e subir mais coisas pra cima do móvel. A gatinha estava assustada, sobre os colchões na cozinha.
Ao terminarem, a garota foi liberada. O padrasto assumiu o lugar dela em frente à porta. Ela correu para o quarto, a mãe a chamava. Lá dentro, sua mãe entregou a ela seu notebook, seu celular e o do padrasto, mandando-a sair pela janela do quarto. Ela saiu. Ao pular do lado de fora, a água bateu quase em seu peito. O muro que separava o terreno da casa do vizinho era irregular e ela conseguiu subir, com esforço, a parte mais baixa do muro. Pegou tudo que a mãe lhe entregou e colocou sobre o telhado, que ficara baixo, à altura da jovem sobre o muro. Em seguida, foi a vez da gata. Ela pegou sua princesinha e soltou-a no muro. Ela correu para a sacada do quarto do vizinho e lá ficou, encolhida, levemente molhada e muito assustada. A jovem pôde ver, de relance, a mãe presa dentro do seu quarto, tentando livrar-se da mesa do computador e do sofá, que haviam virado no quarto cheio de água e impediam a passagem pela porta. Ela conseguiu.
Os vizinhos da casa da frente já estavam retirando suas coisas. Lá ainda não estava cheio. A mulher que lá morava, apesar de não ser a pessoa à qual a jovem mais gostava, já começava a chorar, mas a ajudou a descer do muro, segurou seu notebook e os celulares e os entregou assim que a jovem estava em terra firme. Ela não pensou muito, colocou o notebook sobre as coisas dos vizinhos e, inocentemente, enfiou os dois celulares nos bolsos da capri que vestia. O padrasto gritava pela mãe dela, ela seria a próxima a sair. A moça não pensou naquela hora, esqueceu-se dos celulares nos bolsos. Ao ver a mãe apontar pela janela, jogou-se na água, afim de ser uma ponte para que a mãe tivesse firmeza na água, que estava alta e com correnteza, o que só a fazia preocupar ainda mais, já que a mãe era alguns centímetros mais baixa que ela e não sabia nadar. Deu certo. Não houve nem mesmo um escorregão.
O padrasto foi o último a sair. Assim que soltou a porta, ela se escancarrou, a parte de baixo da porta de metal completamente amassado e torto. Ele fechou as janelas, para impedir que alguma coisa viesse a sair flutuando e ser levada.
Assim que estavam todos do lado de fora, a menina voltou ao muro, pulou o balaustre da sacada do vizinho e pegou sua gatinha. Desceu. Ela estava firme em seu desespero. O padrasto tinha um fusca amarelo, foi o abrigo deles durante a chuva. Não havia mais telefones, só então a moça se deu conta e começou a sentir-se culpada. Desabou. Chorava baixinho apertando a gata que escondia-se onde conseguia. Na falta dos celulares, o padrasto tentou ir ao orelhão mais próximo, no fim da rua. Só então se deu conta do tamanho da tragédia. A avenida estava tomada de água. Voltou com as notícias, mais choro, esbravejamento. Ficaram algumas horas ali. Quando a chuva deu trégua, ele ligou o barulhento fusca e se dirigiram à casa dos tios da moça, que moravam em um bairro do outro lado da cidade e eram a ajuda mais próxima que tinham.
Saíram. Deixaram tudo pra trás. A avenida já tinha escoado um pouco da água, dava para passar. Quando chegaram próximos à rodoviária, viram que boa parte das casas que ali tinham, no morro, vieram a baixo. Havia bombeiros e ambulâncias estacionados, pessoas chorando em toda parte. O irmão da mãe dela não estava em casa, mas a tia os recebeu e os acomodou na casa. Eles estavam sem luz, sem água. A garota foi acomodada num pequeno quarto que era o escritório, com sua gatinha, que era ao lado do quarto das primas. Apesar de mais velhas, a moça gostava da companhia delas. A mãe e o padrasto foram instalados no quarto de hóspedes que ficava à beira da piscina, no porão. Ela ficou um bom tempo chorando agarrada à mãe, chorando. Passou a noite assim, até dormir, sendo vencida pela exaustão.
Ali começava o Ano Novo dela. O ano tão esperado e que veio de forma tão desastrosa.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Capítulo 20

Los Angeles, Califórnia. Bar The Planet, sexta à noite.

Assim que conheceu Shane, Angela ficou fascinada por ela. E era mútuo. Elas ficaram bem unidas, quase sempre estavam juntas.
A loira ainda morava na casa que era de Lucas, mas o "pai" raramente era visto por ali. Shane a visitava todos os dias, quando não acontecia o contrário. Com sua fama de pegadora, a andrógena rapidamente conseguiu arrancar alguns beijinhos de Angela, poucos dias depois de conhecê-la, mesmo a loira dizendo que estava ficando com uma francesinha que havia conhecido antes de Shane. Elas se sentiam atraídas, era automático o beijo quando estavam juntas. Mas os tempos de beijos duraram pouco.
Em vez disso, Angela e Shane se tornaram parceiras. Talvez por assossiação, a loira ganhou a fama de pegadora também, mesmo demonstrando que não era de ficar com todas. Sempre que Shane dava festas, Angela estava no bar, assim como na casa da morena, jogando Verdade ou Desafio, jogo esse no qual ela era perita, amava desafios e encarava o que viesse pela frente.
Em meio à todos esses acontecimentos, Angela conheceu no bar, ou através de Shane, a linda e divertida Amber, sua sócia no lugar, a amalucada DJ Montilla, a irmã de Shane, Melissa, as melodramáticas Alliana e Mel, entre tantas outras garotas legais, ou nem tanto, que frequentavam ali.
Já com Jodi, a parceria era mesmo de irmãs. Estavam também sempre juntas e conversando, e foi pela irmã, surda, que Angela se empenhou em aprender libras.
Jodi tinha uma filhinha, que a loira de olhos azuis considerava como sua sobrinha, e se davam bem. Ela gostava de mimar a menina, brincando e correndo, sempre tinha ânimo para estar com elas.

Noite de sexta, em frente ao computador.

A garota de olhos verdes estava mais animada que nunca. Havia encontrado duas amigas com as quais se identificara muito. Ainda por cima, conheceu a irmã de Marta, Ana, e mais algumas outras meninas das quais não tinha muito contato no mundo "exterior".
Ela e Marta estava sempre combinando os jogos, Marta agitava a galera para se juntar e "rodar a garrafa".
Com Manu, ela passava horas também conversando, até que pegaram o vício de jogar Poker pelo MSN, foi a perdição das duas. Estavam viciadas naqueles joguinhos, se divertiam muito juntas.
E foi assim durante algum tempo. Manu e Marta começaram a brigar demais e a moça de cabelos castanhos passou a sentir-se culpada. Como se tivesse separado aquela dupla que ambas eram antes de conhecê-la. No fim, até mesmo por insistência de Manu, ela deixou de lado o sentimento de culpa. Resolveu não se meter com o que acontecia entre as duas. Era amigas delas independende de ambas se falaram ou não, isso não mudaria.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Capítulo 19

Las Vegas, Nevada. Outubro de 2009.

Angela sentiu que passou os melhores dias de sua vida ao lado de Marg. Estranhou, apenas, não se recordar dos detalhes.
Quando se despediram, ela sentiu o coração apertar, lembrava-se de cenas que não eram, exatamente, lembranças de seus dias com a Marg. Parecia tão mais...real. Vinha de dentro dela, era tão íntimo que Angela chegava a se assustar.
Ela partiu numa tarde, seria muito difícil ver Marg outra vez, ela sabia disso, mas o tempo que passou ali, com ela, foi especial e Angela sabia disso. Embora ainda não entendesse o porquê.
Ela voltou para casa de Lucas, em Los Angeles. No avião, pensava e tentava decifrar tudo que, de fato, havia acontecido naqueles dias, mas notou que o que ela viveu ali não era tão intenso quanto o que ela sentia por dentro de si.

Estado de São Paulo, duas semanas antes do início de Novembro.

Era o último ano da jovem de olhos claros no colégio. Sua turma queria fazer para a despedida. Planejaram passar o dia em uma chácara, no feriado de Finados, no dia 02/11.
A moça, junto à sua mãe, conseguiram que a patroa da mesma emprestasse o sítio para que passassem os dias. Foi muita zoação, muita piscina e conversa. Fotos e videos. E até mesmo a tentativa frustada de fazer uma batida de morango sem liquidificador. Foi uma cena hilária para uma coisa com um gosto tão horrível. Lúcia, Tassi e Fê, suas amigas, picaram os morangos, jogaram dentro de uma garrafa pet com vinho e leite condensado e começaram a chacoalhar. Depois que os braços estavam doendo e o líquido lá dentro parecia estar "pronto", despejaram em uma caneca. O que viram foram morangos esmagados caindo junto à uma bebida impossível de engolir. Nem o mais bêbado conseguiu tomar aquilo. Mas a diversão estava garantida naqueles dois dias.

Los Angeles, Califórnia, Meados de Novembro de 2009.

Angela andava por aí, quando passou em frente à um barzinho que chamou sua atenção. O nome, The Planet, destacado acima das portas, assim como o fato de 99% das pessoas dentro dele serem mulheres, fez com que ela entrasse ali também. Foi naquela noite que a loira conheceu Shane, a dona do lugar. Uma andrôgena extremamente legal, com fama de pegadora, entre outras coisinhas. Ela ficou fascinada com o lugar, com Shane, foi uma amizade quase instantânea. Por intermádio de Shane, Angela conheceu Jodi, com a qual se identificou tanto que sentiu que sua família havia aumentado. Eram irmãs de consideração.

Casa da moça de cabelos longos, à noite. Meados de Novembro de 2009.

Naquela noite, a jovem, em frente à seu computador, partiu para um lugar diferente em seus jogos. Ali, ela conheceu Marta, a primeira com quem teve contato nesse "mundo novo" em que entrava. Em seguida, através dela, conheceu Manu, sua mana de coração. A partir daí, o encontro entre elas todos os dias era praticamente certo, conversavam, combinavam seus próximos jogos, riam. A garota estava feliz, empolgada.
- Vai ser demais, Angela! - ela sorria, enquanto desligava o pc, altas horas, para ir dormir.

Capítulo 18

Poços de Caldas, Minas Gerais, 11 de Outubro de 2009.

A jovem de olhos verdes quase não dormiu na noite anterior. Vez ou outra acordava, apenas para olhar Luna dormindo, na cama de solteiro logo ao seu lado, pouco acima de seu colchão no chão.
Após cair no sono novamente, o dia amanheceu e sua querida Luna havia acordado. O dia era de festa, era o aniversário da moça de olhos claros. Tanto Luna quanto a tia parabenizaram a jovem, elas logo se arrumaram e saíram, para mais um dia de turismo e fotografias. Ela não poderia estar mais feliz. Aquele dia passou rápido, mas foi perfeito. Leo, o garoto que acreditava que não ia ligar, realmente ligou em seu aniversário. Assim como sua mãe e alguns poucos amigos e parentes.
Ao voltarem, à noite, Rita saiu para resolver algumas coisas, deixando as duas jovens sozinhas. A porta do banheiro não fechava. A garota fora tomar seu banho e tentou, forçou a porta de todas as formas, mas o medo de ficar presa ali dentro depois foi mais forte. Apenas a encostou bem e tomou seu banho. Seu susto foi imenso ao sentir algo gelado em sua perna, estando sob o chuveiro quente. Ao olhar para trás, quase morreu de vergonha e teve vontade de matar Luna. Ela estava ali, do outro lado do box de vidro, com um rodo na mão, cutucando-a e olhando-a de cima a baixo, nua. A jovem desligou o chuveiro e tentou se encolher o máximo possível, tentando ficar invisível, em vão. Ameaçou. Xingou. Esperneou, tentou acertá-la. Luna decidiu deixá-la terminar o banho. E foi isso que a jovem fez, rapidamente. Ao sair do box, percebeu que a mineirinha tinha levado suas roupas. Mas deixara a toalha, estava de bom tamanho. Enrolou-se e saiu do banheiro. Luna não estava visível. Foi ao quarto, pegou o pijama de frio que havia levado na mochila, mas desistiu. Estava muito quente. Partiu pelo apartamento atrás de Luna. O notebook estava sobre o sofá cama, na sala, vazio. A cozinha também estava vazia, e a lavanderia.
- Onde ela se meteu?
Havia um quartinho nos fundos do apartamento, Luna estava ali, deitada sobre um colchão no chão, um travesseiro abaixo da cabeça, mostrando claramente que as roupas da garota estavam ali. Ela tentou negociar, tentou pegar à força suas roupas, mas ambas rolaram pelo colchão, Luna aproveitando-se para tirar casquinhas da jovem, tentando a todo custo puxar sua toalha. Quando percebeu que estava quase recuperando a roupa roubada, a mineirinha, mais alta e até mais forte que a paulistinha, levantou-se e ficou fazendo-a de boba, trocando a roupa de mão e colocando atrás do corpo, contra a parede, para que não fosse pega. O resultado disso? A jovem teve que abrir sua toalha, deixar que Luna visse seu corpo, só então teve suas roupas de volta. Correu para o quarto e se vestiu.
Ao voltar para a sala, a mocinha já estava no notebook. Ela ajeitou-se perto dela, para ver tv e alguma coisa que a amiga estivesse vendo no note. Além do que, para dar um tapa ou outro por ser tão cara de pau. Mas se gostavam demais. Aquela briguinha acabou em amassos no sofá. Depois em risos.
Depois da casa da tia Rita, Luna levou a amiga para a casa da mãe dela, em outra cidade de Minas. A casa da temída mãe dela. A jovem de olhos claros não tinha uma impressão das melhores, mas tentou deixar com que o dia que passou lá fosse o melhor possível. A noite foi muito legal, com os amigos de sua querida e amada amiga, uma festinha na praça da cidade, bexigas de hélio, risos. Era muito difícil as duas ficarem a sós, a mãe da mineirinha marcava pesado, mas elas conseguiram raras vezes, trocar um beijo ou outro.
No dia seguinte, à tarde, lá estava a moça com seus 18 anos recém completos na rodoviária. Esperaram o ônibus, ela e sua amiga, por algum tempo. Conversaram, até o momento que o ônibus encostou na plataforma. O coração apertou. Demoraram-se o máximo possível. A mocinha de cabelos claros foi a última a embarcar. Permaneceu todo o tempo abraçada à sua querida.
- Posso te morder?
- Pode. (risos nervosos pela separação)
A mineirinha mordeu, delicadamente, e com toda a força que possuía, o pescoço da amiga. Abraçada a ela, a jovem de olhos verdes (ou azuis, como ela insistia em dizer), sentia seu cheiro, tentava memorizá-lo. Teve de embarcar. Da janela do ônibus, acenou uma última vez pra amiga. E então o ônibus partiu. Ela se viu chorando.As lágrimas desciam compulsivamente enquanto um fiscal passava por ela pedindo as passagens. Pensou que a moça estava passando mal. Ela sorriu, balançou a cabeça negativamente. Ele se foi. Ela encostou a cabeça no vidro e voltou a chorar. Olhava as paisagens que traziam tantas lembranças a ela e não conseguia se controlar. Sentia, sabia, que ali, naquele lugar, foi onde se sentiu mais livre, onde se sentiu mais feliz, onde ela pôde ser quem ela sempre quis: Ela mesma.
O resto da viagem foi apenas isso, nostalgia e melancolia. Sozinha, sem ninguém para conversar. Ao entrar em São Paulo outra vez, o trânsito foi seu maior inimigo. Como tudo aquilo demorou. Ao chegar na plataforma, reviu a mãe, abraçou-a, sentia saudades da mãe, mas morria de saudade daquele lugar, do que viveu. Sentia que jamais voltaria à acontecer. A volta para casa foi mais um sofrimento, mais duas horas de viagem até chegar em sua casa. E então, poder dormir e voltar, em seus sonhos, para aquele lugar, com aquela a quem ela queria tão bem.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Capítulo 17

Rodoviária de Poços de Caldas, Estado de Minas Gerais, 10 de outubro de 2009.

A garota chegou, enfim, ao seu destino. Desceu com o amigo de viagem dentro da rodoviária, mas mal teve tempo de se despedir dele, sua amiga a agarrou, abraçou tão forte que quase rasgou sua orelha por causa do brinco. Foi esmagada. Ambas riam muito.
Ela finalmente conseguiu desvencilhar-se dos braços de Luna e desperdir-se do amigo, que prometeu:
- Te ligo amanhã para te dar parabéns.
Ela sorriu, tinha certeza de que ele não iria ligar.
Luna apresentou sua tia à amiga recém-chegada. Tímida, cumprimentou a mulher com um sorriso. Havia uma terceira pessoa, uma garota que morava com elas no apartamento. Luna não parava de falar e as duas aproveitavam para rir muito enquanto caminhavam em direção ao carro da tia Rita.
Ela as levou ao shopping ali perto, a jovem tomou um sorvete enquanto sua amiga e a tia esperavam a senha do lanche. Quando, finalmente, foi chamada, Luna foi buscar seu lanche, voltou com ele e o colocou na mesa. Foi aí que aconteceu o maior mico da tarde, motivo de indecisão entre risadas, fingir que não conhecia, ou ajudar Luna.
A moça de olhos verdes empurrou, de leve, o banco da amiga para trás. Ao fazer isso, o banco soltou um ruído e Luna olhou-a, ela sorriu, acreditando ter sido descoberta. E foi quando Luna sentou. Ela não acreditou quando viu a amiga indo em direção ao vazio e sentando no chão com as pernas pro ar, numa queda vergonhosa. Não teve como não rir. Tia Rita não sabia se a ajudava ou se ria, acabou caindo na gargalhada. Um senhorzinho que estava ali por perto foi quem ajudou Luna a levantar-se. Ela estava vermelha como uma pimenta malagueta. Fuzilou os olhos verdes da amiga, embora risse, estava morrendo de vergonha. Queria matar a amiga. Mas acabou que tudo foi esquecido, após algumas desculpas e reclamações, tudo terminou em risadas.

Las Vegas, Nevada. Outubro de 2009.

Pela primeira vez, o encontro com Marg foi na casa dela. Não em um cassino, não em um hotel, mas na casa dela. E Angela percebeu que nunca poderia ficar mais íntimo.
Assim que chegaram de viagem, o tour pela cidade foi deixado de lado, foram tomar um sorvete e, em seguida, direto para a casa dela. Foi lá que ela ficou instalada pelos próximos dias.

Apartamento da tia Rita, Fim da tarde/ início da noite.

Assim que o episódio do shopping esfriou, a colega que estava junto voltou a rodoviária para viajar, as três entraram no carro e foram para casa.
Luna veio no banco de trás com a amiga, realmente enchendo o saco da garota, mas elas riram muito, foi o que importou. O carro entrou no estacionamento do prédio, elas desceram e subiram alguns lances de escadas para chegar ao apartamento. Lá, a moça deixou sua mochila guardada no guarda-roupas de Luna, a qual mostrou algumas coisas pra ela que tinha: óculos escuros, um sapo de pelúcia, chaveiros, contando a história de cada um.
Em um dado momento, a tia de Luna foi tomar banho. Foi o momento que a garota esperava para "atacar" a amiga. Encostou-a na janela, beijou-a. Quase a jogou janela afora, de tanto entusiasmo. Riram. Continuaram. Lu, mais alta que a garota, foi posta contra a janela, bateu com a cabeça no vidro, riram ainda mais. Mas curtiram o momento enquanto puderam. Assim que a tia saiu do banheiro, ambas estavam recompostas, como se nada houvesse acontecido.
Quando foi chegando a noite, as meninas de arrumaram e Luna foi levar a garota de olhos verdes (que, para ela, eram azuis) à praça algumas quadras abaixo, sairiam para passear.
Algumas voltas depois na praça, sendo que passaram por um grupo de garotos algumas porções de vezes, um dos rapazes veio para o lado delas e sussurrou:
- Menina emo.
Luna olhou imediatamente para a amiga.
- Nem vem, Lu. Você que está de chaupeuzinho xadrez e blusa de bolinhas coloridas. Não tenho nada de emo, foi para você.
Começou a rir. Lu se irritou.
- Emo? Eu? Ele vai ver quem é emo.
Só fez a amiga rir mais. Luna tinha uma mania de ficar batendo no bumbum da amiga. Quando passavam pelos rapazes, se juntavam ainda mais. As duas tentaram sentar em algumas barras que havia na praça, um canto meio escuro. Os caras passaram por elas, voltaram, passaram outra vez. Luna, que não estava conseguindo se equilibrar bem na barra, encaixou seu corpo entre as pernas da amiga, apoiando suas costas no corpo pendurado da moça de olhos claros. Os caras passaram outra vez, viram a cena, piraram. Faziam tanto esforço para chamar a atenção que irritava.
As duas saíram de lá, foram para o banheiro. Foi aí que aconteceu. Tudo vazio, entraram na mesma cabine. Ficaram. Na hora de sair, um engano de cálculo colocou as duas frente-a-frente com uma estranha que se maquiava no banheiro. Luna quase morreu de vergonha, embora não conhecesse a mulher. A jovem de olhos claros não se importou, não conhecia ninguém, ali ela podia ser qualquer pessoa. Até uma mais parecida com ela mesma. A noite foi longa, houve muitas risadas, muitas provocações e, as benditas palmadas no bumbum que Luna não dispensava em dar na amiga.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Capítulo 16

Casa da garota de cabelos castanhos, Outubro de 2009.

Ela conversava com a garota que havia se tornado sua primeira ex, mas que não deixara de ser sua amiga. Aquela à qual ela sente que sempre terá um carinho, apesar de tudo.
Discutiam sobre o aniversário da moça estar próximo, mas a jovem garantia a amiga que não haveria comemoração alguma naquele ano, sem festas de aniversário ou coisa parecida. Não havia tempo para fazer uma festa do jeito que ela queria, faltavam duas semanas apenas.
- Tem que ter uma comemoração, não pode passar em branco. Você está fazendo 18 anos.
Elas convesaram um bom tempo. A mineirinha teve uma idéia e passou para a moça.
- Vem pra cá. Fica na casa da minha tia, comigo. Já que não tem festa, viaja.
Os olhos verdes da garota brilharam, ela estava feliz e empolgada. Foi necessário alguns dias para convencer a mãe e outros para combinar tudo. No final da negociação, estava de passagem marcada para o dia 10, seu aniversário sendo no dia 11 e ela voltaria no dia 12, no final do dia, aproveitando o feriado.

Los Angeles, Califórnia, Outubro de 2009.

Angela estava pelas ruas, andando de bobeira. Tinha acabado de sair de um barzinho, onde tinha marcado de se encontrar com alguns amigos, e passava pela Hollywood Boulevard, olhando as estrelas da Calçada da Fama. Foi quando a viu.
Marg estava parada diante dela, alguns metros à sua frente, observando uma estrela de alguma personalidade que interessava a ela. Angela estava relutante ao se aproximar daquela loira que tanto quebrara seu coração, mas ao mesmo tempo, apesar de tudo o que sentia por ela em seu íntimo, toda mágoa, ainda havia carinho, e ela sentiu que era seguro aproximar-se.
As duas se cumprimentaram, conversaram de forma animada. Foi quando veio o convite.
- Porque não volta pra Vegas comigo? Por uns dias? Anda..vai ser legal.
Ela fixou seus olhos azuis nos da loirinha à sua frente, mas agora o cabelo de Marg estava alguns tons mais escuro, um caramelo talvez? Após algum tempo de insistência, ela disse sim. As duas marcaram de partir após alguns dias.

Terminal Rodoviário do Tietê, Estado de São Paulo. 10 de Outubro.

O dia finalmente tinha chegado. A moça de olhos verdes acordou cedo, às 7 da manhã, escolheu a roupa, se vestiu e pegou sua mochila, arrumada no dia anterior. Tomou café junto com sua mãe e partiram. Foi necessário um ônibus, um trem e alguns minutos de metrô, da casa da jovem até o terminal rodoviário onde pegaria o ônibus de viagem para Poços de Caldas, Minas Gerais, onde Luna morava com a tia.
Ela se despediu da mãe, subiu no ônibus, parado na plataforma 23, e esperou. O ônibus deu a partida, ela deu um último aceno para sua mãe, pela janela. E o ônibus se foi.
Horas depois, ouvindo música durante metade do caminho, um rapaz subiu no ônibus com a irmã, no terminal da cidade de Campinas. Eles estavam com a passagem em sequência, mas não era a mesma dos bancos. Ela estava no 17, ao seu lado o banco 18. Os dois estavam com passagens 18 e 19, ao contrário do que pensavam, não sentariam juntos. O rapaz apressou-se em sentar ao lado da jovem de cabelos castanhos, mandando a irmã pro banco do outro corredor, atrás deles. O ônibus estava cheio, não tinha como "escolher lugares".
Não demorou e o ônibus partiu em direção à Minas. Léo, o rapaz que havia se instalado no banco ao lado, era legal. Eles ficaram conversando sobre música, sobre os lugares de onde eram e pra onde iam, fizeram uma amizade nas horas restantes da viagem.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Capítulo 15

Dia do casamento de Fernanda, cidade de Guararema, aproximadamente 16:00 hs.

A garota de olhos verdes chega na cidade bem mais cedo do que o necessário. O casamento era a noite, aproximadamente às 19 horas.
Tenta ligar e se comunicar com suas amigas, não consegue.
- Mas que droga, ninguém atende esse celular. Vou tentar ligar para a Fê.
Ela liga, a noiva a atende. Após conversarem um pouco e ela dizer que já estava caminhando pelo centro, Fê convida-a para ir até onde ela está, ajudá-la a terminar de se arrumar, conversarem. A garota de cabelos castanhos vai andando pelo centro da pequena cidade. Está vestida de meia-calça preta e um vestido preto com rendas, botas pretas, os longos cabelos castanhos soltos, os olhos verdes destacados por um lápis preto e a boca, levemente carnuda, destacada por um batom rosa avermelhado. Ela caminha a passos largos, não sabe andar de outra forma, parece que está sempre com pressa, mesmo tendo tempo de sobra. O sol ainda brilhava forte acima de sua cabeça, fazendo com que ela fique incomodada com o calor, estava pronta para a noite, não para o sol. Alguns garotos na calçada do outro lado da rua mexem com ela.
- Viva o Rock'n'Roll, gatinha!!
Ela ri, ergue a mão fechada com os dedos mínimo e indicador erguidos, fazendo o símbolo do Rock na direção dos rapazes, com uma espécie de careta simbólica, depois continua seguindo seu caminho, rindo. Pensa, está mesmo parecida com uma roqueira, uma gótica. Talvez se seus olhos fossem azuis, um pouco mais velha e mais gordinha, seria a Amy Lee perfeita naquele vestido. ela gostava daquela comparação. Embora gostasse não só de rock, seu estilo de roupas sempre se identificou mais com o rock.
Ela chegou na casa da tia da noiva, sorriu ao ver a amiga já maquiada, se arrumando. A jovem amiga também a elogiou, ela estava empolgada. A garota de olhos verdes ajudou sua amiga, com o maior cuidado, a vestir o difícil vestido de noiva e a terminar os último ajustezinhos. Retocou a própria maquiagem e partiram para a igreja, a hora havia voado.
O casamente foi lindo, a festa foi muito divertida, a noiva estava linda, o noivo estava todo feliz. Foi um dia perfeito para o grupo de amigas do colégio "Feijão", como era chamado carinhosamente, ou nem tão carinhosamente assim, a Escola Estadual Roberto Feijó, onde elas estudavam.

Casa de Lucas, quarto de Angela, a noite.

Naquela noite Angela não saiu. Sentiu-se vazia demais para ir a qualquer lugar, não teve vontade de sair.
Sentia que, naquela noite, sua voz interior recusava-se a falar com ela, o que a fez questionar se esse "ser" interior realmente existia, ou se estaria com ela o tempo todo. Ela havia ganhado o péssimo hábito de fumar. Geralmente ela fumava com amigos, em festas ou coisas do gênero, mas acabava fumando sempre que sentia-se assim, solitária.
Estava sozinha, a casa silenciosa e escura, Lucas havia saído e dificilmente retornaria para casa naquele dia. A loira aproveitou para relaxar e acabou adormecendo no meio da quarta garrafa de cerveja.

Casa de Tassi, após a festa.

Naquele dia, a jovem de longos cabelos castanhos não voltou para casa. Dormiu na casa de uma amiga, na cidade. Estava feliz, empolgada. Não viu Angela naquele dia.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Capítulo 14

Agosto de 2009, Sala do 3º Ano do Ensino Médio, durante alguma aula qualquer.

A garota de cabelos castanhos está feliz por sua amiga Fê, havia recebido dela o convite para seu casamento e preparava-se, com ansiedade, para a cerimônia daqui a alguns dias.
Lembrou alguns fatos engraçados e desagradáveis que aconteceram, relacionados a casamentos. O primeiro casamento de uma das amigas que ela esteve presente. Foi algo engraçado. Andara a pé com Sol, Fê e o casal, Tassi e Hamilton, por toda linha do trem até chegar na chácara onde era a cerimônia. Foi em 2007, primeiro ano do colegial. Após a cerimônia, Tassi e o namorado foram embora. A amiga, acostumada com AllStar, estava incomodada com o salto da sandália e voltou para casa. A garota de cabelos castanhos continuou na festa com Sol e Fê, tiraram fotos e aí começa a parte engraçada da história.
Durante a festa, as irmãs de Tata, que casava, inventaram de fazer a noiva passar o sapato para as mulheres, enquanto o noivo passava a gravata aos homens. Ela não tinha levado sapato reserva. Acabou que a garota de olhos verdes e uma das irmãs da noiva praticamente ajudaram ela a passar por toda a festa pulando em um pé só, segurando o sapato nas mãos.
A festa acabou tarde, as três meninas tinham medo do pontilhão de trem a noite. Conseguiram uma carona. Com quem? Com os noivos. Foi a última piada da festa, todas riram, gritavam para os noivos que estavam levando muitas malas, enquanto as três garotas se espremiam no banco de trás junto aos presentes. Foi um dia hilário.
O próximo casamento de que se lembrou foi o de Bruna, uma colega não tão amiga, mas que se aproximava por estar no grupo. Essa não foi uma lembrança boa, não fora convidada ao casamento, com a desculpa de que Bruna já sabia que ela não iria. Ficou chateada, mas decidiu ignorar. Tinha orgulho, não era aquilo que a abalaria. Voltou sua atenção novamente para a aula, de que era mesmo? Não viu a professora na sala quando virou-se para a lousa, mas continuou a copiar a matéria assim mesmo.

Casa de Lucas, Quarto de Angela, Agosto de 2009.

Angela está pensativa. Sente um enorme impulso de fazer uma festa. Um dia muito especial está se aproximando, ela não entende muito bem o porque, já que não é seu aniversário ou coisa parecida, mas era como se fosse.
Está ficando entristecida pois não haverá comemoração. Apesar de não saber o motivo pelo qual comemorar, sente como se algo lhe faltasse se aquela data passasse em branco.
- Ainda faltam dois meses, alguma coisa ainda pode acontecer.
A loira pensava que uma festa seria o ideal. Uma festa de arrasar. A data não poderia passar em branco, como poderia? Eram 18 anos. Angela fixou seus olhos azuis no espelho diante de si.
- 18? Já passei dos 18 a muito tempo. Como posso querer comemorá-los em plenos 26?
Ela desligou o computador, estava com o coração apertado. Deitou-se na cama e dormiu.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Capítulo 13

Escola Estadual, Último ano do Ensino Médio, Brasil, 2009.

2009 já tinha começado a alguns poucos meses. A mocinha de olhos claros e cabelos estava curtindo sua fase no último ano do colegial.
Uma amiga sua, Mih, que havia saído da escola dois anos antes, retornava, não para a mesma sala que ela, mas já era alguma coisa. Passavam a grande parte dos intervalos juntas e conversando, assim como com as outras garotas.
Já fazia alguns meses que ela decidira se afastar de computador para jogos e relacionamentos, visando curar-se dos seus últimos tombos e levantar uma barreira que a impedisse de deixar com que mais alguém se aproximasse. A mocinha tinha apenas duas coisas em mente:
- Não quero namorar mais ninguém que esteja longe. Não quero ninguém através de uma tela fria de computador.
Estava decidida. Nada de namoro à distância, nada de namoro virtual.

Los Angeles, Califórnia, Período entre o final de 2008 e o ínicio de 2009.

Angela nunca se sentira tão vazia. Não tinha ânimo para fazer nada, viveu em uma reclusão quase absoluta. Lucas, seu pai, assim como Matt, seu filho, tentavam animá-la, sem grande sucesso.
A loira sentia como se lhe faltasse um pedaço, não queria acreditar que aquele efeito tivesse sido causado por Scar, porém no fundo de seu coração, sentia que esse vazio nada tinha a ver com a ex. Era como se lhe faltasse a consciência, aquela vozinha que lhe induzia a tomar decisões, à fazer tudo o que ela pensava em fazer, um alguém que se encontrava dentro dela, bem lá no fundo de sua consciência.
Era abril, mas seria um mês como outro qualquer, não fosse aquele acontecimento que tanto animou a loira de olhos azuis. Naquela tarde, Angela sentiu aquela sua força interna, a vozinha que conhecia bem e tanto lhe fizera falta estava de volta. Saiu de casa, tomou um banho de loja, passou em um barzinho, beijou, dançou, bebeu, brincou. Sentia-se uma pessoa completamente diferente, não tanto quanto antigamente, mas ainda assim diferente. Não tinha aquele gênio explosivo, era bem mais madura, muito menos briguenta e muito mais divertida.

Quarto da moça de olhos verdes, Abril de 2009.

A jovem chegara rindo muito, ao lado de sua amiga de infância, Milene. Ambas estavam na rodoviária conversando enquanto Mih esperava seu ônibus. A garota conseguiu perder o ônibus, que estava parado diante dela na plataforma. Ele simplesmente ligou e saiu, deixando a distraída para trás. As duas riram muito. Acabou que Mih foi com a amiga pra casa dela. Ao chegar, passaram a tarde conversando, rindo e vendo filmes. Lembraram-se de outros micos como aquele, Tata, xará da menina de olhos verdes, certa vez estava no ponto, após a escola, quando viu seu ônibus vindo. Ela se despediu das duas e correu para dar sinal, com o braço estendido o mais que conseguia, para seu um metro e cinquenta e um (e meio, como ela insitia em dizer). As pessoas a alertarem que aquele ônibus ia para a garagem e ela, sem graça, voltou correndo pra junto das amigas, que já riam, e levou um belo de um tombo, para aumentar ainda mais as gargalhadas gerais. Passaram a tarde naquele clima de lembranças e cumplicidade. Às quatro da tarde sua amiga foi embora.
Ela foi para o computador, achava que já estava empolgada o suficiente para voltar aos jogos. Abriu o orkut e digitou o e-mail e senha, logo viu o rosto da loira à qual tinha tanto xodó. Ela refez o ânimo também da loira de olhos azuis e se divertiram juntas. À noite, quando desligou o pc e deitou-se, o sono quase a levando para o mundo dos sonhos. Após rezar por alguns minutos, ela sorriu e pensou:
- É isso aí Angela, se prepare. Estamos de volta!

Capítulo 12

Novembro de 2008, Clínica veterinária Quatro Patas, Centro.

Fazia um ano que a princesinha da casa, a gatinha siamesa Milly, havia sido adotada. Foi um período de alegria, a felina era a alegria da família e a fonte de distração de sua dona, que tinha enfrentado períodos difícies em relacionamentos.
Entretanto, com o passar do tempo, a gatinha passou a entrar no cio, causando um barulho infernal dentro da casa que passou a irritar o padrastro mala da garota. No mês de novembro, assim que a gatinha completara seu primeiro ano de vida, no dia 13, foi levada à clínica veterinária para ser castrada.
Depois que tudo fora acertado, ela ficou uns dois dias na clínica e foi operada. Não houve problemas e ela logo retornou para casa. A veterinária havia recomendado que não deixassem que ela pulasse para subir em lugares altos, disse que ela lamberia os pontos, que aquilo era normal e a saliva ajudava a cicatrizar. Pediu para que ficassem de olho nela apenas sobre pular e correr, para não abrir os pontos internos.
A preocupação com a gatinha era tanta que o quarto da mocinha de olhos verdes se tornou um quarto "acolchoado". Sua mãe e padrasto pegaram todos os colchões e almofadas disponíveis na casa e forraram o chão de seu quarto, para amortecer o impacto do pulo da gatinha e também para diminuir a distância entre o chão e os possíveis locais onde ela subiria, como o sofá que havia no quarto da garota, a mesa de seu computador e sua cama.
A jovem passava 24 horas de seu dia dentro do quarto com a felina, de olho nela, saía apenas para ir ao banheiro, tomar banho ou pegar comida, ainda assim, apenas depois que alguém, geralmente sua mãe, entrasse no quarto para substituí-la, e logo voltava ao seu posto. Com alguns dias de operada, Milly conseguiu dar um susto tremendo em sua dona, arrancando os pontos da barriga com os dentes. A jovem entrou em desespero. Estava sozinha em casa, ligou para o trabalho da mãe chorando, tentando explicar o ocorrido. A mãe tentou acalmá-la e disse para levar a gata de volta à clínica, que encontraria com ela lá assim que saísse do serviço.
A mocinha de olhos verdes se vestiu apressadamente, pegou a bolsa, que era uma casinha própria para transportar a gata que eles haviam comprado, colocou-a, com cuidado, dentro da casinha, pendurou o peso da bolsa e de Milly em seus ombros, trancou a casa e saiu, à pé, até a clínica no centro da cidade, uns três ou quatro quilômetros de distância.
A médica veterinária a atendeu prontamente, avaliou a gatinha e explicou que ela havia arrancado apenas pontos externos. Decidiu colar nela um colar protetor, que sua dona chamava de "abajurzinho". A mulher disse que os gatos geralmente se incomodavam com coisas presas à eles, então que era para reparar se ela ficava agitada, querendo tirar o colar, então poderia trazê-la de volta e ela ficaria mais alguns dias na gaiolinha tendo cuidados apropriados.
Para sorte da jovem, sua gata se manteve tranquila com aquele enorme funil branco em volta de seu pescoço. A moça de olhos verdes passou o mês inteiro de dezembro em seu quarto, com sua gata, o que fez com que o vínculo entre elas aumentasse. A gata procurava sua cama durante a noite para dormir, vinha em busca de carinho e, ao tentar encostar seu nariz no rosto da dona, batia-lhe com o "abajur" na cabeça, grande parte das vezes na testa, o que gerava risos e, algumas vezes, sustos durante a noite. A gatinha, em algumas ocasiões, procurava os piores lugares para se dormir, no pescoço de sua dona, outras vezes na cabeça, mas ela não se mexia, deixando com que a peludinha escolhesse o local que queria, manifestavasse apenas quando a posição a incomodava, fazendo a gata se ajeitar entre seus braços ou pernas. Foi um mês difícil. Dormia mal durante a noite, por conta das investidas de Milly, ou mesmo para ceder lugar a ela, dormia de mal jeito. Nunca havia passado tanto tempo trancada dentro de um único cômodo. Não colocou a cara para fora de casa, mal saía do quarto, acabou, por fim, esquecendo-se de Angela também, ou dando um tempo para a loira de olhos azuis, embora algumas vezes a visitasse em seu cantinho.
No ínicio de 2009, Milly estava bem melhor e espoleta, curada, apesar do susto. Só então sua dona voltou a respirar tranquila.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Capítulo 11

Los Angeles, Califórnia, Casa de Lucas.

Angela estava de volta. Quando juntou-se com Scar, alguns anos atrás, fora morar com ela na mansão da família, mas descobriu, algum tempo depois, que só haveria problemas naquele lugar.
Eram legais, mas eram complicados demais. Ela teve que lidar com vários tipos de situações às quais lhe custavam paciência e uma boa dose de sofrimento. Era óbvio que o casamento acabaria.
Mas durante esse meio tempo, Scarlett teve um casal de filhos com Angela, que por uma injustiça do destino, sofreram um grave acidente de carro, fazendo assim com que a menina, Marie, morresse. O menino, Matthew, sobreviveu. Eram muito novos quando o acidente ocorreu, agora Matt já era um rapazinho e se recusava a ficar com Scar, queria ficar com Angela. Para ele, ela era sua mãe e seu pai.
O casamento acabou, Scar a deixou e Angela levou o garoto com ela. Era seu filho, seu filho de verdade, tinha o seu DNA e o de algum homem que ambas encontraram, um doador, e foi Scarlett quem engravidou. Angela não se via grávida aos 22 anos, não tinha "jeito" para aquilo.
Lucas ajudou a criar "seu neto". Aquela era uma família, sem dúvida, engraçada. Ele, mais velho que ela alguns poucos anos, era chamado de avô, quando todos, ao verem o trio na rua, diriam que eram os pais e filho.
Matt tornou-se adolescente, Angela estava com 26 anos, o garoto passou por várias fases e adotou inúmeros outros nomes. Jared, Caleb, tantos outros. Ele nunca mais quis saber de como estava Scar, ela havia morrido para ele. Angela também tomou aquele exemplo e deixou a ex de vez no passado.

Quarto da garota de cabelos castanhos, Final de 2008.

Aquele tinha sido um ano turbulento, ela havia se apaixonado de novo por alguém que lhe mexeu com as estruturas, e novamente tinha sido deixada.
Ela sentou-se em frente ao computador, entrou no Orkut, rede social que era febre na época, incluindo os jogos de RPG, que a garota adorava.
Olhou bem para o rosto daquela a qual considerava uma ponte para seus sentimentos e disse, duramente, a si mesma:
- Nunca mais. Nunca mais vou misturar sentimentos reais com virtuais. A partir de agora, é só um jogo!
O ano de 2008 terminou com ela abandonando seu jogo e sua personagem favorita, não totalmente, mas ela havia largado bem mais de lado do que costumava deixar no passado. Ela amadureceu, ela se endureceu com as pancadas que levou, se afastou para recompor, ou melhor, para construir suas defesas.
Mas a garota amava demais sua querida Angela, para deixá-la daquela forma.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Capítulo 10

Voltando para casa, Los Angeles, EUA.

Angela embarcou no voo noturno, mais barato e discreto. Saiu do alojamento dos atores no meio da noite e fugiu.
Reparou em uma moça sentada algumas fileiras à frente, na Classe A do avião, que olhava em sua direção e falava com uma aeromoça. Em seguida a mulher atravessou a aeronave e veio em sua direção.
- Queira me acompanhar, por favor.
- Eu fiz algo?
- Não, a senhorita na Classe Executiva deseja sua companhia.
A loira levantou-se e seguiu a mulher com uniforme da empresa aérea até a Primeira Classe. Lá chegando, notou como estava vazia, apenas algumas pessoas presentes ali, bem distantes uma das outras. Ela sentou-se, ao olhar para o lado, uma bela jovem loira de olhos verdes e brilhantes estava sentada ao seu lado. Baixinha, tinha um ar de menina, se apresentou.
- Meu nome é Scarlett, pode me chamar de Scar, se quiser.
- Angela. Muito prazer. Então, o que quer comigo?
A moça riu e Angela se mostrava confusa. Não houve resposta, continuaram o voo lado a lado, conversando, animadamente. Angela nunca pensou que diria isso, mas estava se apaixonando outra vez.

Em casa, Brasil.

Naquela tarde, após a escola, a garota já estava em frente ao seu computador. Ela não imaginava o que aconteceria a seguir.
Enquanto jogava, conversava com suas amigas, acabou com por conhecer, em meio à um jogo, Carol. Elas se entenderam muito bem à primeira vista e rolou uma quimica intensa entre elas, assim como entre suas personagens.
Com o passar do tempo, acabaram namorando, a mocinha de olhos verdes se via perdidamente apaixonada por aquela moça, como não se sentia desde sua primeira ex.

Los Angeles, EUA, alguns dias depois.

Angela foi para L.A. pois seu "pai" de consideração, Lucas, havia se mudado para lá a alguns meses. Ela chegou, se instalou na casa dele, contou-lhe a fria que tinha se metido e tudo que tinha acontecido durante aqueles meses que ela disse que viria e não chegou.
Em uma tarde, a loira saiu para dar uma volta, foi a alguns barzinhos e baladas. Estava começando a se enturmar novamente. Parou em uma praça, sentada no banco, olhando o céu e a paisagem, quando alguém se aproxima dela e senta-se ao seu lado. Supresa, ela sorri ao olhar a lorinha ao seu lado.
- Olha só quem encontrei por aqui.
- Scarlett, quem diria.
Sorriram uma para a outra, Scar, uma baixinha cheia de sensualidade, convidou-a para irem numa lanchonete e depois à beira da praia, seguiram assim o itinerário do passeio. Se beijaram, ambas entraram numa paixão avassaladora.
Algumas semanas se passaram e Angela já morava junto com Scar, conheceu toda sua família e descobriu algo que a espantou: Scar era uma Baronesa!

Estado de São Paulo, Brasil.

As duas moças, cada uma praticamente de uma ponto do país, começaram um namoro. De início, assim como tudo, foi perfeito.
Elas curtiam, embora o relacionamento fosse à distância. Juntas sempre que podiam na net, por altos períodos, ou por telefone, o namoro durou cerca de 8 meses, mas foi desfeito, tudo começou a ruir e a mocinha de olhos verdes se viu sofrendo outra vez.
Pela primeira vez, a mocinha de longos cabelos castanhos se viu chorando na escola, diante das amigas, por um amor que não valia a pena. Daquele dia em diante, ela aprenderia a dizer não, ela não misturaria mais um jogo com sua própria vida.

Capítulo 9

Espaço aéreo dos EUA, Classe econômica.

Angela ia pegar um avião para voltar à Santa Mônica, a sua primeira parada assim que saiu de casa. Porém, isso não chegou a acontecer.
A loira estava sem sorte naquele dia. Viu Famke embarcar e permaneceu ali, sentada. Seu voo estava dez minutos atrasado. Quando finalmente ouviu a voz de uma moça dando a primeira chamada, levantou-se e foi em direção ao embarque.
O avião, que tinha como destino a cidade de Los Angeles, parecia estar lotado de amalucados com sonhos de estrelato em Hollywood. A aeronave parecia ter sido fretada para uma trupe de atores inquietos. Ela manteve-se quieta e concentrada durante boa parte da viagem, ouvindo música ou lendo qualquer coisa. Entretando, a mecha roxa que pendia entre os fios loiros, caindo próximo aos olhos azuis, chamou a atenção de um homem que estava em uma poltrona ao lado, no corredor.
- É uma bela garota. Já pensou em ser atriz de teatro?
Confusa, a loira tirou os fones de ouvido e olhou para o homem, que aparentava ter o dobro de sua idade, no mínimo.
- O que o senhor disse?
- Não tem essa de senhor, me chame de Billy. A maioria aqui nesse avião são meus funcionários, eu agencio atores, minha querida. Gostaria de se tornar um deles?
A jovem mulher olhou em volta para algumas poltronas onde estavam as mais estranhas e diferentes figuras que ela já vira.
- Olha, eu não sei.
- Que isso, garanto que tem talento. E sua beleza a ajudará muito. Estamos indo para Hollywood, onde mostrarei os principais pontos ao meus atores, são todos novatos, como você será se aceitar. De lá iremos para a Europa, nossa turnê começará na Itália. Já se viu indo para a Itália, querida?
Ela parou para pensar, o homem continuava a falar e falar, até que, talvez por notar que a garota era decidida e difícil de se dobrar, tocou em seu ponto fraco: sua coragem.
- Será o maior desafio de sua vida!
Ela cedeu. E assim que o avião pousou, seguiram para Hollywood, passaram alguns dias lá e então foram para seu destino final: Europa.

Aula de Educação Física, Escola Estadual, Brasil.

A menina de olhos verdes havia acabado a voltar às aulas, mas estava curtindo, tinha caído na mesma sala que a grande maioria de seus amigos.
Era uma aula de educação física, as duas quadras da escola estavam tomadas por alunos jogando. Na quadra descoberta, as meninas aceitaram a proposta de um jogo de futebol. A garota ficou com suas amigas em um time: Tassi, Sol, Jéssica e Lúcia. No outro, as mais patricinhas de sua sala, as legais: Lari, Luana, Marcinha, Gi e a insuportável Jade.
Alguém que não estava jogando, Fê, amiga das meninas, filmou o jogo, a time delas ganhava descaradamente das patricinhas. Tassi e a garota de olhos verdes jovam muito bem, em contrabalanço às desengonçadas patricinhas.
Mas foi uma aula divertida, as garotas se entendiam bem, todas elas, com excessão de Jade, é claro. O dia passou.

Roma, Itália, Primeira parada da trupe, alguns dias depois.

Angela tinha chegado, finalmente. Depois de vários dias de ensaio, todos os atores estavam empolgados com a fama após a estréia. Foi então que veio a notícia.
- Usem isso. Todos vocês terão de usar durante as cenas. E você, loira, esconda essa mecha roxa do cabelo.
O gentil homem que todos acreditaram tornou-se um carrasco. Distribuiu máscaras para todos os atores, eles não poderiam ser reconhecidos por ninguém, não fariam fama alguma. O trabalho era unicamente para juntar dinheiro suficiente para custear suas passagens e sua própria estadia. O que acreditaram que era um investimento, tornou-se uma dívida para eles terem que quitar. Recebiam apenas uma mísera gratificação semanal, que mal dava para comprar uma peça nova de roupa. Os outros gastavam, em sua maioria, com coisas que Angela considerava sem importância, acreditando que aquilo seria só pelo começo de suas carreiras internacionais. Ela juntou seu dinheiro afim de comprar uma passagem de volta para casa. E assim o fez. Ficou quase três meses até ter o suficiente para voltar aos EUA. Comprou a passagem às escondidas, quando conseguiu um preço melhor, e fugiu durante a noite para o aeroporto, embarcando.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Capítulo 8

Mogi Shopping, Mogi das Cruzes, Brasil.

O ano ainda era 2007, mas estava no final. A menina Karla viria de sua cidade para a casa de seus tios, na cidade vizinha à da garota de olhos verdes.
Marcaram de se encontrar, a mocinha foi com a mãe até São Paulo, onde foi o primeiro encontro, num shopping de lá. O segundo foi bem mais perto, na cidade de Mogi das Cruzes. Karla levou os dois primos mais velhos ao primeiro encontro e a prima mais nova no segundo. Eram duas meninas legais.
A jovem moça adorou a filhota e se apegou ainda mais a ela, pois se entenderam muito bem em seu encontro. Seria seu mero engano pensar que aquele dia tinha fortalecido sua amizade.

Casa de Angela, Filadélfia, Algum tempo depois.

O tempo havia passado, Angela viu todas suas jovens filhas ficarem adultas. Jen havia saído de casa e, apesar de se encontrar quase sempre com a "mãe", Angela mal a via depois que se mudou.
Em compensação, Famke, a filha mais velha, trouxe uma pequena garota de 8 anos para casa, sua própria filha. E, aos 22 anos Angela se viu "avó".
Rach, como chamavam a pequena Rachel, era muito apegada à mãe e à avó, tinha boas relações com Jen tbm, apenas Jenna que, como sempre, não se dava bem com o restante da família.
Mas conforme o tempo ía passando, Rach se apegava mais com Jen, deixando sua mãe e sua avó de lado. As duas ficaram cúmplices, cada vez mais unidas, deixavam de lado o restante da família, o que deixava todas levemente magoadas por estarem se afastando tanto assim.

Cidade de Guararema, Primeiros meses de 2008

A jovem de olhos verdes estava conversando com sua melhor amiga virtual, Jéssica. A mesma havia lhe apresentado Beka, alguns meses atrás, fazendo-a ser "parte da família".
Porém, tanto Beka, quanto Karla, se afastaram dela, de Jéssica e de Anna. A mocinha veio a descobrir depois, por Jessy, que Karla havia lhe falado mal pelas costas, censurando-as junto à Beka, disse que se afastara delas porque eram "sapatões", que a mocinha de aparelho nos dentes e olhos verdes havia "dado em cima dela", que a tinha olhado diferente, uma coisa que nunca acontecera realmente.
A jovem de sorriso metálico considerava Karla como uma filha, tratou-a em ambos os encontros que tiveram, como uma amiga de verdade, como se fosse realmente sua mãe, mas notou que nada daquilo teve valor. Magoou-se profundamente com aquilo. Tentou tirar satisfações com a garota carioca, mas nada aconteceu. A amizade se desfez, os laços se soltaram. A família acabou.

Aeroporto Internacional da Filadélfia, Início de 2008

Depois do baque inicial, de ver sua família tranquila e os bons momentos naquela casa com aquelas garotas ruir, Angela fez as malas, queria sumir no mundo novamente. Todas eram adultas, ela não via mais Jen e nem mesmo Rach, Jenna então, não era mais da sua conta, nunca foi.
Ela olhou bem nos olhos da única filha à qual ela realmente se importava agora, acariciou-lhe o rosto, sorrindo, agora uma mulher feita, mais alta até do que a própria loira. Famke se tornara uma bela e valorosa mulher, ela se orgulhava disso.
- Nunca abandonarei você, será sempre minha filha, poderá vir passar tempos comigo ou morar comigo quando quiser, por quando tempo desejar.
A morena alta diante dela chorou. Ambas se abraçaram. Famke também estava de malas prontas. Tinha muitas desilusões amorosas ali naquele lugar, a desilusão familar acabou com o restante de vontade que tinha de continuar ali. Elas partiram.
Angela sabia que depois daquela experiência jamais seria a mesma. Ou talvez poderia ser, mas tinha em mente o quanto havia amadurecido. Isso ela jamais esqueceria.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Capítulo 7

Filadélfia, Casa da "Família Holden", 2007.

Angela realmente havia adotado aquelas duas adolescentes, poucos anos mais novas do que ela mesma, que havia, a pouco, completado seus 20 anos.
As três passaram a morar juntas, Angela arrumou um emprego fixo e ficou mais caseira, apoiava as jovens em seus problemas e conflitos. Jennifer contou, semanas depois, que tinha uma irmã gêmea, que gostaria que Angela a trouxesse para a casa também. E assim foi feito. A jovem Jenna chegou alguns dias depois, mas Angela mal sabia o problema que estava arrumando.

Saída da Escola Estadual, Brasil.


A jovem de olhos verdes saíra da escola empolgada, como sempre, dera uma volta com suas amigas pelas ruas do pequeno centro da cidade, indo até a praça, sentando para conversar.
Assim que deu a sua hora, ela despediu-se das demais e partiu. Andava um bom caminho à pé até sua casa, caminho esse que, em manhãs de pressa ao sair de casa atrasada para a escola, percorria em dez minutos, embora o normal levado fosse de, no mínimo, o dobro, para quem anda normalmente, com calma.
Ela passava pelo campo de futebol da cidade, pela rodoviária, continuava em frente, passava por um posto de gasolina, continuava. Subia uma rua paralela à avenida, então chegava em casa. Muitas vezes acontecia um fato estranho, saía da escola sob um sol de rachar e, ao chegar no posto, adiante até sua casa, era uma chuva intensa (do nada). Isso a fazia rir, outras vezes lamentar. Mas era algo diferente em sua caminhada.

Quarto das gêmeas, Filadélfia.

Jenna era uma garota difícil, problemática, desobediente. Não tinha a mesma consideração de mãe por Angela como as outras duas, talvez pela pouca diferença de idade, era exatamente o contrário, ela a desafiava cada dia mais.
Naquele dia, Angela explodiu. Jennifer havia engravidado, sensível, chorava por qualquer coisa. Jenna aproveitavasse disso para provocá-la, irritá-la. Naquela tarde, assim que chegou do trabalho, Angela se deparou com a Famke desesperada, pois Jen chorava muito e Jenna a importunava. Ela subiu direto para o quarto. Encontrou as duas moças atracadas, Jen perdia feio já que a barriga de pouco mais de 7 meses à atrapalhava um bocado.
Entrou no meio da confusão, pegou cada uma delas por uma orelha, como sua própria mãe costumava fazer com ela mesma, e alterou a voz o mais séria e grave possível.
- Peçam desculpas uma à outra. AGORA!
Jenna limitou-se a se emburrar e se debater. Gritava com a jovem mulher que lhe segurava a orelha.
- ME SOLTA! Você não manda em mim!
Jen, por sua vez, era apenas choro, mal falava ou gesticulava. Sua orelha foi liberada e um dedo estendeu-se a ela, apontando a parede onde ficava a cama dela, a qual a mocinha sentou-se e encostou-se, aos prantos. As atenções voltaram-se para a rebelde diante dela, enquanto Famke consolava a irmã de coração.
- Sua irmã está grávida. Não tem o menor senso de cuidado, não tem o menor carinho por ela, não é?
- Ela é uma chorona, não faz outra coisa a não ser chorar. Eu só faço com que fique engraçado.
- Mexendo com ela para fazê-la chorar? Muito engraçado. E batendo nela?  Você enlouqueceu?
- Me deixa, você não é minha mãe! Você é tão vadia quanto minha irmã!
Um tapa virou o rosto da jovem de cabelos castanhos, fazendo-os cair sobre ele. Ao voltar seu rosto para a loira que a segurava, agora pelo braço, cuspiu em sua direção. Aquilo foi demais, por um instante Angela se viu fazendo o mesmo que sua mãe costumava fazer com ela durante sua própria pré-adolescência. Ela arrastou Jenna, naquele momento leve como uma pena, devido a força que a raiva lhe dava. A mocinha esperneava e fazia corpo mole, não importava, foi arrastada até o banheiro, seu destino foi o vaso sanitário. Angela segurou firme os cabelos castanhos e ameaçou empurrar sua cabeça ali dentro.
- Vai se desculpar! Comigo e com sua irmã!
- Não vou!
Ela empurrou um pouco mais na direção da água.
- Vai sim! Vai se desculpar!
- NÃO!
O não alto dela a despertou daquele transe, viu suas outras duas "filhas" olhando-a apavoradas. Jen ainda chorava, agora ainda mais descontroladamente. Angela soltou Jenna, que caçoou dela assim que se viu livre e se levantou. A loira se aproximou e deu um empurrão leve na mocinha rebelde, fazendo-a cair dentro da banheira cheia. Essa parte era improviso seu, porque antigamente sua mãe realmente enviava a sua cabeça dentro privada e dava desgarga, chamando-a por palavrões. Ela deixou o banheiro das garotas e foi para seu próprio quarto, atordoada. Mas aquele banho deixou o clima mais leve, Jen ainda soluçava, o rosto molhado de lágrimas, mas agora ria, da estressadinha que se erguia da banheira, ensopada.

Em casa, após a escola, Brasil.


Já fazia algum tempo que ela havia chegado, viu um pouco de tv e tirou um leve cochilo assim que começou a passar o Pica-Pau. Assim que acordou, olhou as horas, desligou a tv e foi direto para o computador.
Ali, encontrou suas duas melhores amigas, Jéssica e Karla. A segunda disse que queria lhe apresentar alguém, talvez mais uma "filha" para a família. A mocinha conheceu então Anna. A princípio não tiveram uma amizade muito boa, Anna era fechada e parecia não confiar nela, não deixar se aproximar.
Mas naquela tarde e noite, juntaram-se um pouco mais, seus jogos as fizeram rir, embora ouvesse conflito na tela, fora dela as quatro riam e comentavam, dando opiniões para a cena e surpreendendo-se com as coisas que aconteciam.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Capítulo 6

Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos, 2007.

O ano havia mudado, o endereço também. O local escolhido por Angela, dessa vez, foi do outro lado do país, a Pensilvânia, mais precisamente: a Filadélfia.
Ela queria fugir de seu próprio destino, queria esquecer a sensação de estar apaixonada e deixar de lado suas preocupações com Marg. Queria sentir-se livre, queria voltar a estudar, trabalhar. A parte do estudo Angela deixou de lado, como sempre, e acabou fazendo alguns trabalhinhos na cidade.
Como era de seu feitio, logo fez amizades, uma turma legal na qual ela se concentrava para esquecer a anterior, de Vegas, e assim poder esquecer também Marg. Entre eles, Angela encontrou as jovens Famke e Jennifer, pelas quais sentia um carinho enorme, não de romance, mas de fraternidade, talvez até mais, pois tinha uma proteção e cuidado com essas garotas como se fosse sua mãe, acabou ganhando delas esse apelido: Mamy.

Brasil, Primeiro ano do Ensino Médio, 2007.

A mocinha de olhos verdes iniciava outra jornada de sua vida, agora no ensino médio, teve que perder uma de suas melhores amigas para a distância.
Ela sempre experimentara a dor de perder amizades ao longo do tempo, pois mudava-se constantemente, tanto de casa quanto de escola, dessa vez ela ficou, porém a amiga acabou indo. Aquela seria ainda a primeira. Próximo ao meio do ano, perdeu sua outra melhor amiga para o mesmo inconveniente: distância. Ela casou-se ainda jovem, com apenas 17 anos, estando grávida e deixando a escola naquele mesmo ano.
Mas a jovem de olhos verdes ainda conseguiu se reeguer, conheceu outras garotas na escola, passou a ser parte de um grupo diversificado, encontrou outra melhor amiga: Tassi.
Fora da escola, as amigas da vez eram Jéssica e Karla, feitas pela internet e das quais tinha muito carinho, tanto que as chamavam de filhotas.

Zoológico, Filadélfia, Alguns meses depois.

Foi um dia bem proveitoso e tranquilo, conseguiu visitar o Zoo inteiro naquele dia. A tarde começava a se iniciar, ela decidiu voltar para casa. Entretanto, ela não era alguém que passava uma noite de sábado em casa. Logo se arrumou, saiu novamente, foi aos lugares mais badalados, encontrou gente interessante, mas seu ser pegador estava um pouco apagado, ainda sentia falta da garota que encontrara em Vegas.
- Que isso, Angela, se anima garota. Você é linda e estou vendo... - o amigo olha ao redor - Pelo menos umas cinco pessoas olhando nessa direção.
- Pessoas? - A loira brinca, erguendo sua sobrancelha arqueada para analizar o amigo, sabia que entre aquelas "pessoas" havia, ao menos, uma garota.
O rapaz deu de ombros, tornou a olhar em volta e respondeu a amiga:
- Agora tem, no mímino, uma meia duzia.
Ambos riram. Talvez fosse melhor encontrar alguém mesmo, não queria saber de relacionamentos ou de mulheres, mas talvez um beijo ou outro no bonitão na outra ponta do balcão não fosse assim tão mau.

Casa da amiga, Aula vaga.

Todas saíram da escola rindo, tinham uma aula vaga pela falta de um professor e saíram todas mais cedo. Tassi morava na rua de trás da escola, foram todas para lá. Conversaram e riram o restante da manhã, a jovem foi embora apenas depois do almoço.
Chegando em casa, ela ficou conversando com seu vizinho, um cara legal, pintor (desenhava muito bem) e roqueiro, que vez ou outra era ouvido de dentro da casa dela, cantando no quintal, uma voz não muito afinada, por sinal.
Naquele dia não houve incidente do padrasto a pegar conversando com ele e passaram a tarde toda num papo animado. Ao final da conversa, ela entrou, a mãe ainda não tinha chegado do trabalho, então ela foi para o computador. Lá encontrou Jéssica e Karla e ficaram conversando animadamente, ou jogando, outro hobby de todas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Capítulo 5

Outubro de 2006, residência da mocinha de olhos verdes.

Ela estava empolgada, apesar do fim de seu namoro, ainda amava Luna e sentia que, por mais problemas que tivessem, no fundo aquilo era mútuo.
Marcaram um dia para se encontrar em um famoso parque de diversões. Ambas contavam os dias para se conhecerem pessoalmente, tornar a amizade sólida ao se verem, esperavam o mês passar de forma ansiosa, seria uma conquista para Luna aquela viagem e para a jovem garota paulista, uma oportunidade.

Outubro de 2006, Las Vegas.

Angela logo se enturmou com vários jovens, rapazes e moças, que também estavam em Vegas pela primeira vez. Estavam em uma tuor pelas atrações da cidade, visitavam os cassinos e tiravam fotos em frente aos mais diversos pontos turísticos.
A loira foi à diversos bares da região, dançou loucamente, bebeu, beijou, deu muita risada com os novos amigos. Foi em um desses bares que ela aprendeu a fazer malabares com garrafas e abri-las com uma faca, o que a surpreendeu mais. O tempo foi passando, estranhamente ela ainda sentia aquele ar apaixonado que não era típico, logo avistou alguém com quem esse ar tomou forma.

18 de Novembro, PlayCenter, São Paulo.

O dia marcado finalmente chegou e as duas se encontraram no parque de diversões. Se divertiram, a jovem estava com o coração apertado de ansiedade, talvez algo a mais acontecesse entre as duas, engano seu, ficaram na amizade.
A moça convenceu sua amada a ir em montanhas-russas e no Castelo dos Horrores, onde a mesma fez com que ela perdesse um de seus anéis, de tanto apertar sua mão. Foi um dia perfeito, as duas foram embora no fim da tarde, a partir daquele dia sabiam que seriam parte da vida uma da outra para sempre. Não importa como fosse.

Las Vegas Strip, 20 de novembro.


Ela ficou com a imagem daquela mulher em sua mente, sentia que esse seu ar apaixonado emanava até ela.
- Mas como? Nunca a vi antes.
Uma colega de quarto a ajudou, por conhecer a cidade melhor do que Angela, ela acabou por encontrar a mulher que despertara amor em sua amiga.
- O nome dela é Marg, Angel. Ela mora aqui em Vegas, posso dizer onde encontrá-la.
Angela seguiu as intruções da amiga, não foi difícil para ela encontrar a loira que chamara sua atenção alguns dias atrás. Elas conversaram, o entrosamento entre elas foi instantaneo, como se Angela já a conhecesse, como se conhecesse sua alma. Mas, como estava marcado para ser, não daria certo o relacionamento entre as duas, elas tentaram, mas não conseguiram ir adiante, porém a amizade ficou, elas sentiam que seria para a vida toda.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Capítulo 4

Algum dia à tarde, em Julho de 2006.

Era um dia como outro qualquer até então, a garota ocupava-se em seu computador buscando fotos, com todo o empenho possível, de sua atriz favorita, Angelina Jolie.
Ela tinha em mente os elogios de uma certa garota que conhecera em um blog que possuía, justamente daquela atriz. A menina simpática e com um ar melancólico, que fizera o coração dela dar pulos assim que se conheceram, sempre a visitava em dias de novas postagens. Estava ansiosa por conversar com ela, ficavam cada dia mais amigas, mais íntimas.


Julho de 2006, Las Vegas, Nevada.

- Desde o princípio eu disse que não teria raízes.
Foi o que loira disse a si mesma e aos amigos quando partiu de Santa Mônica naquela manhã. Pretendia ir à Las Vegas e chegar ao anoitecer, quando a cidade estivesse pegando fogo em seus cassinos e hotéis explendorosos.
Angela sentia-se estranhamente atraída para aquela cidade, talvez porque fosse uma aventura e ela gostava de considerar-se aventureira. Embora estranhasse o fato de estar com um ar apaixonado que não sabia de onde vinha, era algo que vinha de dentro, que ela não controlava.

Sua chegada à Vegas foi do modo como esperava, no final da tarde, após um cansativo dia de viagem atrás de um volante. Estava anoitecendo quando ela entrou na cidade com o velho jipe, seus olhos claros refletiam as luzes dos letreiros, ela sorria. "Quem disse que Paris é a cidade luz nunca deve ter vindo para Vegas." Ela riu com o pensamento e tratou de ir ao local que arrumara para se hospedar.

Um mês depois, em alguma parte da internet.


As meninas trocavam confidências, estavam íntimas o suficiente para se apaixonarem. A conversa era frequente, o sentimento mútuo. Luna, a menina de outro estado, pela qual a jovem havia se apaixonado, tinha lhe confessado estar apaixonada por ela também. Saiu de seu antigo relacionamento, mostrando à mocinha de olhos verdes (ou como sua amada dizia "Para mim são azuis.") que estava disposta a ficar com ela de verdade, e ambas deixaram o tempo cuidar do restante. O namoro entre elas durou aproximadamente um mês, talvez o mês mais turbulento da vida dessas duas garotas, tendo começado em meados de julho e terminado próximo ao fim do mês seguinte. Porém depois disso suas vidas estavam seladas, a amizade permaneceu, assim como o amor entre elas. Nenhuma das duas garotas conseguia definir o relacionamento que tinham, nem mesmo as condições de seus sentimentos.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Capítulo 3

Third Street Promenade, meados de Junho de 2006, 13hs.

- Esse lugar é perfeito!
Foi a exclamação de Angela ao ser levada por James, o rapaz conhecido algumas noites atrás no Píer, para o Third Street Promenade, um complexo de lojas, restaurantes e entretenimento, um point dos turistas e artistas. Aquilo a encantou, jamais tinha visto algo do tipo, aquela cidade era grandiosa.
Esse ato só contribuiu para que Angela se apaixonasse pelo rapaz, eles criaram uma forte amizade e muita intimidade. Ambos tinham uma química muito forte que fazía com que nenhum dos dois conseguisse ficar perto do outro sem se tocarem, sem que encostassem um no outro, ao menos por alguns instantes. Como era o esperado, dormiram juntos. Um certo tempo depois, ele apresentou à Angela sua noiva, para surpresa da loira, uma de suas primeiras amigas ali, Jen, a qual residia com ela na república e a qual a mesma tinha muita consideração e estima. Sentiu-se culpada.

Residência, São Paulo, 15hs.

A garota se mantinha fixamente atenta ao que lia no monitor. Sua mente viajava. Ela estava se deixando levar pelas emoções causadas por aquela sensação de conforto.
Demorou alguns dias para que viesse a decepção.
- Eu sabia, tinha que ser. Eu não acredito nisso!
O baque foi forte, foi quando ela percebeu que deveria evitar, à todo custo, que aquilo continuasse. Foi em vão.

Festa na casa de James, sábado à noite.

Foi durante uma festa que Angela novamente cedeu ao seu amado proibido. A amiga, noiva do rapaz, não compareceu, para piorar a situação, insistiu na ida da loira até a casa de James. A festa durou pouco, logo eram apenas ambos no quarto se deixando entregar. Ele lhe fazia juras de amor, que no fundo Angela sabia não serem inteiramente à ela, sentia, em sua consciência, uma vozinha que dizia para não cair nessa. Ela não dava ouvidos. No fundo, sabia que sua consciência também estava se deixando levar por tudo aquilo, era como se até sua consciência, por mais que tentasse resistir, estivesse se apaixonando por ele.
Por um período, Angela levou seu relacionamento secreto adiante aos trancos e barrancos. Tentava sempre desvencilhar-se do rapaz, embora sempre cedesse aos seus assédios. Ela desejava por um ponto final.

São Paulo, duas semanas depois, sexta à tarde.

Aquilo era demais, como podia estar fazendo isso? A moça respirou fundo e rolou uma lágrima de seu rosto. Era injusto, era errado.
- Isso tem que acabar. Eu não posso ficar sofrendo assim por alguém que não é meu, pior ainda, alguém que é de outra. Eu vou tirar você da minha vida, Thiago, de qualquer jeito.
Foi com essas palavras determinadas em sua mente que ela sentou-se diante do computador e esperou pelo jovem a tarde quase toda. Encontrou-o no começo da noite, decidiu-se e criou coragem para acabar de vez com tudo aquilo que viviam, antes que ela própria se apaixonasse ainda mais e o sofrimento fosse maior quando se machucasse.

Quarto de Angela, duas semanas depois, sexta à noite.

- Está decidido James, o que aconteceu entre nós não vai se repetir. Podemos ser amigos, mas não vai tocar em mim de novo. Jennifer será sua mulher, você deve se dedicar exclusivamente à ela.
A conversa foi longa, houve apelos para que nada mudasse, mas ela se manteve firme. Com um selinho, roubado por ele, uma última carícia no rosto dela, olhando-a nos olhos, ambos se despediram. Desde então, continuaram amigos, porém não se encontravam mais às escondidas. Foi um mês atribulado, mas assim que as coisas esfriaram, cada um tomou seu rumo e seguiu sua vida à sua maneira. James e Jennifer se casaram, passaram a morar juntos. Angela foi madrinha do casamento.

Capítulo 2

Píer de Santa Mônica, Estados Unidos, 20hs.

A roda gigante do parque girava iluminada, o carro da montanha-russa fazia os cabelos de Angela voarem em todas as direções. Assim que desceu do brinquedo, ela foi em direção à praia, respirou fundo o ar de maresia e sentou-se na areia, olhando o Pacífico à sua frente.
- Tão imenso, como todas as minhas oportunidades.
A moça acabara de se instalar na casa de um rapaz com o qual se identificara muito, não de forma sexual ou romântica, mas afetiva. Ele ficou conhecido como seu "pai postiço", pelo modo cuidadoso como tratava a moça e a protegia.
Angela já fizera uma grande quantidade de amigos em seu primeiro dia por ali, estava satisfeita com o que a vida estava lhe dando. A única coisa à qual ela não entendia era a si mesma. Estava perturbada naquele dia, embora não pudesse entender o por quê. Tentava a todo custo manter-se natural, mas as patadas em alguns amigos saíam com uma facilidade maior do que a esperada.

Sala da 8ª série, Escola Estadual, Interior de SP, 12:00hs.

- Ai, ela tá azeda hoje, melhor deixar ela quieta. - disse uma das amigas da garota emburrada que estava vestida de preto da cabeça aos pés.
- Não, ela vai rir, ela não aguenta. - Disse a outra amiga que tentava fazer gracinhas com a moça que resistia bravamente.
Chegou a hora da saída dos alunos, as duas amigas riam e tentavam arrancar palavras da emburrada. Ela conversava com as amigas, estava séria, com a blusa preta de capuz, colocado na cabeça tampando uma parte de seu rosto, parecia uma marginal. Sua paciência era curta, era explosiva. Falava à sério com a melhor amiga, que mantinha-se rindo.
- Dá pra parar de rir que eu tô falando sério? Acha que sou palhaça?
Um aceno de cabeça confirmando foi a gota d'água para a garota explodir. Pegou a amiga, alguns centímetros mais baixa que ela, pelo pescoço e esgueu junto ao muro, apertando-o.
- Vai parar de rir agora?
Sua atitude explosiva acabou gerando mais risadas das duas, a garota ergue-a mais um pouco. Um casal passou e a mocinha livre que ria viu:
- Para de brincadeira, tem gente olhando já.
O modo como saiu caçoado enlouqueceu a agressora. Quando notou que a amiga interrompeu o riso com uma tosse, provavelmente porque o recém aperto mais forte tivesse lhe tirado agora o ar, ela a soltou e saiu andando em disparada rumo à praça da igreja, deixando a que ria e a que se recuperava, rindo, às suas costas.

Banco do parque de diversões do Píer.

Uma pausa, talvez apenas uma pausa fosse o suficiente para Angela se acalmar. O excesso de pedidos de desculpas por estar tacando pedras em pessoas legais já a estava incomodando. Respirou fundo, um rapaz se aproximou, conversaram. Conseguiu se comportar decentemente porque o cara era alguém muito interessante, inteligente, não dava brechas para suas patadas, fez com que a loira até mesmo se esquecesse delas e levasse tudo em uma grande brincadeira. Aquele era o começo de uma bela amizade.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Capítulo 1

Interestadual 10W, Estados Unidos, Março de 2006, aproximadamente 18hs.

- Me chamo Angela, tenho dezessete, quase dezoito anos. Sabe aquela sensação de ter caído no mundo de paraquedas? Essa é a sensação que eu tenho.
- Nasci em Phoenix, no Arizona, mas não tenho qualquer lembrança da minha vida, pelo menos até meus quinze anos. A única coisa que tinha era um presente escroto em uma cidade onde eu não me encaixava. Meus pais não me entendiam, eu não parava em nenhuma escola. O ápice? Quando descobriram que eu namorava uma garota no colégio. Me expulsaram de casa. Já estava com vontade de fugir, aquilo me serviu de impulso. Onde estou agora? Rumando para Santa Mônica, com o jipe da família. É, acho que meu velho deve ter se arrependido de ter me dito pra pegar minhas coisas e sumir. Era eu quem dirigia esse jipengo desde antes dos dezesseis, então agora ele é meu.
- Escolhi Santa Mônica como primeira parada. Tem muita gente por lá, turistas, tem empregos, vai ser mais fácil para eu me estabilizar. Se vou fincar raízes? Não. Eu não sou uma árvore, estou mais para um grão de areia, levada pelo vento e, no momento, o vento está me levando até lá.

Interior do estado de São Paulo, Brasil, Março de 2006, 17:30hs.

Escola durante a manhã toda, o restante do dia sozinha em casa. Uma conversa sobre o muro com o vizinho. Um padrasto que chega e se estressa ao ver a cena. Alguns cascudos. Lágrimas.
- Como eu queria estar longe daqui. Angela, preciso tanto de você agora.
Ela se senta à beira da cama e pega um caderno surrado, mas guardado com todo carinho e às escondidas de olhos curiosos. Escreve, segura suas lágrimas, guarda-o. Algum tempo depois, lá está ela, em frente ao seu computador, tentando se distrair, se reconfortar.

Santa Mônica, Califórnia.

- Finalmente, cheguei! Ah, o cheiro da maresia! Isso sim é um ótimo lugar para se recomeçar.
O jipe foi estacionado próximo à areia e despertou olhares. Provavelmente por seu estado precário, ou ainda pela bela loira de olhos claros que descia do banco de motorista.
Alguns passos, o pé tocou os grãos ao qual ela tanto se identificava, então disparou em uma corrida para a água e deu o seu primeiro mergulho naquele mar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Postando pela primeira vez!

Apresentação...


Olá, sou a narradora da história que lerão nas próximas postagens, sobre os acontecimentos da vida de algumas pessoas...que não existem nesse nosso mundo.
Aí vocês dizem: "Em toda história fictícia as pessoas não existem." E eu digo à vocês que essa história é real para as pessoas envolvidas. Elas não existem para a maioria das pessoas, só que entre elas, são tão vivas quanto nós. A vida em paralelo, do real e do imaginário, ambas se interferindo e se completando
Sei que é confuso, mas espero que gostem, pretendo postar várias histórias sobre as personagens, afinal, é o diário delas. Entretando, vamos com calma, o ano só começou, assim como o blog, que ainda tem muito pela frente.

XoXo