segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Capítulo 18

Poços de Caldas, Minas Gerais, 11 de Outubro de 2009.

A jovem de olhos verdes quase não dormiu na noite anterior. Vez ou outra acordava, apenas para olhar Luna dormindo, na cama de solteiro logo ao seu lado, pouco acima de seu colchão no chão.
Após cair no sono novamente, o dia amanheceu e sua querida Luna havia acordado. O dia era de festa, era o aniversário da moça de olhos claros. Tanto Luna quanto a tia parabenizaram a jovem, elas logo se arrumaram e saíram, para mais um dia de turismo e fotografias. Ela não poderia estar mais feliz. Aquele dia passou rápido, mas foi perfeito. Leo, o garoto que acreditava que não ia ligar, realmente ligou em seu aniversário. Assim como sua mãe e alguns poucos amigos e parentes.
Ao voltarem, à noite, Rita saiu para resolver algumas coisas, deixando as duas jovens sozinhas. A porta do banheiro não fechava. A garota fora tomar seu banho e tentou, forçou a porta de todas as formas, mas o medo de ficar presa ali dentro depois foi mais forte. Apenas a encostou bem e tomou seu banho. Seu susto foi imenso ao sentir algo gelado em sua perna, estando sob o chuveiro quente. Ao olhar para trás, quase morreu de vergonha e teve vontade de matar Luna. Ela estava ali, do outro lado do box de vidro, com um rodo na mão, cutucando-a e olhando-a de cima a baixo, nua. A jovem desligou o chuveiro e tentou se encolher o máximo possível, tentando ficar invisível, em vão. Ameaçou. Xingou. Esperneou, tentou acertá-la. Luna decidiu deixá-la terminar o banho. E foi isso que a jovem fez, rapidamente. Ao sair do box, percebeu que a mineirinha tinha levado suas roupas. Mas deixara a toalha, estava de bom tamanho. Enrolou-se e saiu do banheiro. Luna não estava visível. Foi ao quarto, pegou o pijama de frio que havia levado na mochila, mas desistiu. Estava muito quente. Partiu pelo apartamento atrás de Luna. O notebook estava sobre o sofá cama, na sala, vazio. A cozinha também estava vazia, e a lavanderia.
- Onde ela se meteu?
Havia um quartinho nos fundos do apartamento, Luna estava ali, deitada sobre um colchão no chão, um travesseiro abaixo da cabeça, mostrando claramente que as roupas da garota estavam ali. Ela tentou negociar, tentou pegar à força suas roupas, mas ambas rolaram pelo colchão, Luna aproveitando-se para tirar casquinhas da jovem, tentando a todo custo puxar sua toalha. Quando percebeu que estava quase recuperando a roupa roubada, a mineirinha, mais alta e até mais forte que a paulistinha, levantou-se e ficou fazendo-a de boba, trocando a roupa de mão e colocando atrás do corpo, contra a parede, para que não fosse pega. O resultado disso? A jovem teve que abrir sua toalha, deixar que Luna visse seu corpo, só então teve suas roupas de volta. Correu para o quarto e se vestiu.
Ao voltar para a sala, a mocinha já estava no notebook. Ela ajeitou-se perto dela, para ver tv e alguma coisa que a amiga estivesse vendo no note. Além do que, para dar um tapa ou outro por ser tão cara de pau. Mas se gostavam demais. Aquela briguinha acabou em amassos no sofá. Depois em risos.
Depois da casa da tia Rita, Luna levou a amiga para a casa da mãe dela, em outra cidade de Minas. A casa da temída mãe dela. A jovem de olhos claros não tinha uma impressão das melhores, mas tentou deixar com que o dia que passou lá fosse o melhor possível. A noite foi muito legal, com os amigos de sua querida e amada amiga, uma festinha na praça da cidade, bexigas de hélio, risos. Era muito difícil as duas ficarem a sós, a mãe da mineirinha marcava pesado, mas elas conseguiram raras vezes, trocar um beijo ou outro.
No dia seguinte, à tarde, lá estava a moça com seus 18 anos recém completos na rodoviária. Esperaram o ônibus, ela e sua amiga, por algum tempo. Conversaram, até o momento que o ônibus encostou na plataforma. O coração apertou. Demoraram-se o máximo possível. A mocinha de cabelos claros foi a última a embarcar. Permaneceu todo o tempo abraçada à sua querida.
- Posso te morder?
- Pode. (risos nervosos pela separação)
A mineirinha mordeu, delicadamente, e com toda a força que possuía, o pescoço da amiga. Abraçada a ela, a jovem de olhos verdes (ou azuis, como ela insistia em dizer), sentia seu cheiro, tentava memorizá-lo. Teve de embarcar. Da janela do ônibus, acenou uma última vez pra amiga. E então o ônibus partiu. Ela se viu chorando.As lágrimas desciam compulsivamente enquanto um fiscal passava por ela pedindo as passagens. Pensou que a moça estava passando mal. Ela sorriu, balançou a cabeça negativamente. Ele se foi. Ela encostou a cabeça no vidro e voltou a chorar. Olhava as paisagens que traziam tantas lembranças a ela e não conseguia se controlar. Sentia, sabia, que ali, naquele lugar, foi onde se sentiu mais livre, onde se sentiu mais feliz, onde ela pôde ser quem ela sempre quis: Ela mesma.
O resto da viagem foi apenas isso, nostalgia e melancolia. Sozinha, sem ninguém para conversar. Ao entrar em São Paulo outra vez, o trânsito foi seu maior inimigo. Como tudo aquilo demorou. Ao chegar na plataforma, reviu a mãe, abraçou-a, sentia saudades da mãe, mas morria de saudade daquele lugar, do que viveu. Sentia que jamais voltaria à acontecer. A volta para casa foi mais um sofrimento, mais duas horas de viagem até chegar em sua casa. E então, poder dormir e voltar, em seus sonhos, para aquele lugar, com aquela a quem ela queria tão bem.

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