sábado, 26 de janeiro de 2013

Capítulo 13

Escola Estadual, Último ano do Ensino Médio, Brasil, 2009.

2009 já tinha começado a alguns poucos meses. A mocinha de olhos claros e cabelos estava curtindo sua fase no último ano do colegial.
Uma amiga sua, Mih, que havia saído da escola dois anos antes, retornava, não para a mesma sala que ela, mas já era alguma coisa. Passavam a grande parte dos intervalos juntas e conversando, assim como com as outras garotas.
Já fazia alguns meses que ela decidira se afastar de computador para jogos e relacionamentos, visando curar-se dos seus últimos tombos e levantar uma barreira que a impedisse de deixar com que mais alguém se aproximasse. A mocinha tinha apenas duas coisas em mente:
- Não quero namorar mais ninguém que esteja longe. Não quero ninguém através de uma tela fria de computador.
Estava decidida. Nada de namoro à distância, nada de namoro virtual.

Los Angeles, Califórnia, Período entre o final de 2008 e o ínicio de 2009.

Angela nunca se sentira tão vazia. Não tinha ânimo para fazer nada, viveu em uma reclusão quase absoluta. Lucas, seu pai, assim como Matt, seu filho, tentavam animá-la, sem grande sucesso.
A loira sentia como se lhe faltasse um pedaço, não queria acreditar que aquele efeito tivesse sido causado por Scar, porém no fundo de seu coração, sentia que esse vazio nada tinha a ver com a ex. Era como se lhe faltasse a consciência, aquela vozinha que lhe induzia a tomar decisões, à fazer tudo o que ela pensava em fazer, um alguém que se encontrava dentro dela, bem lá no fundo de sua consciência.
Era abril, mas seria um mês como outro qualquer, não fosse aquele acontecimento que tanto animou a loira de olhos azuis. Naquela tarde, Angela sentiu aquela sua força interna, a vozinha que conhecia bem e tanto lhe fizera falta estava de volta. Saiu de casa, tomou um banho de loja, passou em um barzinho, beijou, dançou, bebeu, brincou. Sentia-se uma pessoa completamente diferente, não tanto quanto antigamente, mas ainda assim diferente. Não tinha aquele gênio explosivo, era bem mais madura, muito menos briguenta e muito mais divertida.

Quarto da moça de olhos verdes, Abril de 2009.

A jovem chegara rindo muito, ao lado de sua amiga de infância, Milene. Ambas estavam na rodoviária conversando enquanto Mih esperava seu ônibus. A garota conseguiu perder o ônibus, que estava parado diante dela na plataforma. Ele simplesmente ligou e saiu, deixando a distraída para trás. As duas riram muito. Acabou que Mih foi com a amiga pra casa dela. Ao chegar, passaram a tarde conversando, rindo e vendo filmes. Lembraram-se de outros micos como aquele, Tata, xará da menina de olhos verdes, certa vez estava no ponto, após a escola, quando viu seu ônibus vindo. Ela se despediu das duas e correu para dar sinal, com o braço estendido o mais que conseguia, para seu um metro e cinquenta e um (e meio, como ela insitia em dizer). As pessoas a alertarem que aquele ônibus ia para a garagem e ela, sem graça, voltou correndo pra junto das amigas, que já riam, e levou um belo de um tombo, para aumentar ainda mais as gargalhadas gerais. Passaram a tarde naquele clima de lembranças e cumplicidade. Às quatro da tarde sua amiga foi embora.
Ela foi para o computador, achava que já estava empolgada o suficiente para voltar aos jogos. Abriu o orkut e digitou o e-mail e senha, logo viu o rosto da loira à qual tinha tanto xodó. Ela refez o ânimo também da loira de olhos azuis e se divertiram juntas. À noite, quando desligou o pc e deitou-se, o sono quase a levando para o mundo dos sonhos. Após rezar por alguns minutos, ela sorriu e pensou:
- É isso aí Angela, se prepare. Estamos de volta!

Capítulo 12

Novembro de 2008, Clínica veterinária Quatro Patas, Centro.

Fazia um ano que a princesinha da casa, a gatinha siamesa Milly, havia sido adotada. Foi um período de alegria, a felina era a alegria da família e a fonte de distração de sua dona, que tinha enfrentado períodos difícies em relacionamentos.
Entretanto, com o passar do tempo, a gatinha passou a entrar no cio, causando um barulho infernal dentro da casa que passou a irritar o padrastro mala da garota. No mês de novembro, assim que a gatinha completara seu primeiro ano de vida, no dia 13, foi levada à clínica veterinária para ser castrada.
Depois que tudo fora acertado, ela ficou uns dois dias na clínica e foi operada. Não houve problemas e ela logo retornou para casa. A veterinária havia recomendado que não deixassem que ela pulasse para subir em lugares altos, disse que ela lamberia os pontos, que aquilo era normal e a saliva ajudava a cicatrizar. Pediu para que ficassem de olho nela apenas sobre pular e correr, para não abrir os pontos internos.
A preocupação com a gatinha era tanta que o quarto da mocinha de olhos verdes se tornou um quarto "acolchoado". Sua mãe e padrasto pegaram todos os colchões e almofadas disponíveis na casa e forraram o chão de seu quarto, para amortecer o impacto do pulo da gatinha e também para diminuir a distância entre o chão e os possíveis locais onde ela subiria, como o sofá que havia no quarto da garota, a mesa de seu computador e sua cama.
A jovem passava 24 horas de seu dia dentro do quarto com a felina, de olho nela, saía apenas para ir ao banheiro, tomar banho ou pegar comida, ainda assim, apenas depois que alguém, geralmente sua mãe, entrasse no quarto para substituí-la, e logo voltava ao seu posto. Com alguns dias de operada, Milly conseguiu dar um susto tremendo em sua dona, arrancando os pontos da barriga com os dentes. A jovem entrou em desespero. Estava sozinha em casa, ligou para o trabalho da mãe chorando, tentando explicar o ocorrido. A mãe tentou acalmá-la e disse para levar a gata de volta à clínica, que encontraria com ela lá assim que saísse do serviço.
A mocinha de olhos verdes se vestiu apressadamente, pegou a bolsa, que era uma casinha própria para transportar a gata que eles haviam comprado, colocou-a, com cuidado, dentro da casinha, pendurou o peso da bolsa e de Milly em seus ombros, trancou a casa e saiu, à pé, até a clínica no centro da cidade, uns três ou quatro quilômetros de distância.
A médica veterinária a atendeu prontamente, avaliou a gatinha e explicou que ela havia arrancado apenas pontos externos. Decidiu colar nela um colar protetor, que sua dona chamava de "abajurzinho". A mulher disse que os gatos geralmente se incomodavam com coisas presas à eles, então que era para reparar se ela ficava agitada, querendo tirar o colar, então poderia trazê-la de volta e ela ficaria mais alguns dias na gaiolinha tendo cuidados apropriados.
Para sorte da jovem, sua gata se manteve tranquila com aquele enorme funil branco em volta de seu pescoço. A moça de olhos verdes passou o mês inteiro de dezembro em seu quarto, com sua gata, o que fez com que o vínculo entre elas aumentasse. A gata procurava sua cama durante a noite para dormir, vinha em busca de carinho e, ao tentar encostar seu nariz no rosto da dona, batia-lhe com o "abajur" na cabeça, grande parte das vezes na testa, o que gerava risos e, algumas vezes, sustos durante a noite. A gatinha, em algumas ocasiões, procurava os piores lugares para se dormir, no pescoço de sua dona, outras vezes na cabeça, mas ela não se mexia, deixando com que a peludinha escolhesse o local que queria, manifestavasse apenas quando a posição a incomodava, fazendo a gata se ajeitar entre seus braços ou pernas. Foi um mês difícil. Dormia mal durante a noite, por conta das investidas de Milly, ou mesmo para ceder lugar a ela, dormia de mal jeito. Nunca havia passado tanto tempo trancada dentro de um único cômodo. Não colocou a cara para fora de casa, mal saía do quarto, acabou, por fim, esquecendo-se de Angela também, ou dando um tempo para a loira de olhos azuis, embora algumas vezes a visitasse em seu cantinho.
No ínicio de 2009, Milly estava bem melhor e espoleta, curada, apesar do susto. Só então sua dona voltou a respirar tranquila.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Capítulo 11

Los Angeles, Califórnia, Casa de Lucas.

Angela estava de volta. Quando juntou-se com Scar, alguns anos atrás, fora morar com ela na mansão da família, mas descobriu, algum tempo depois, que só haveria problemas naquele lugar.
Eram legais, mas eram complicados demais. Ela teve que lidar com vários tipos de situações às quais lhe custavam paciência e uma boa dose de sofrimento. Era óbvio que o casamento acabaria.
Mas durante esse meio tempo, Scarlett teve um casal de filhos com Angela, que por uma injustiça do destino, sofreram um grave acidente de carro, fazendo assim com que a menina, Marie, morresse. O menino, Matthew, sobreviveu. Eram muito novos quando o acidente ocorreu, agora Matt já era um rapazinho e se recusava a ficar com Scar, queria ficar com Angela. Para ele, ela era sua mãe e seu pai.
O casamento acabou, Scar a deixou e Angela levou o garoto com ela. Era seu filho, seu filho de verdade, tinha o seu DNA e o de algum homem que ambas encontraram, um doador, e foi Scarlett quem engravidou. Angela não se via grávida aos 22 anos, não tinha "jeito" para aquilo.
Lucas ajudou a criar "seu neto". Aquela era uma família, sem dúvida, engraçada. Ele, mais velho que ela alguns poucos anos, era chamado de avô, quando todos, ao verem o trio na rua, diriam que eram os pais e filho.
Matt tornou-se adolescente, Angela estava com 26 anos, o garoto passou por várias fases e adotou inúmeros outros nomes. Jared, Caleb, tantos outros. Ele nunca mais quis saber de como estava Scar, ela havia morrido para ele. Angela também tomou aquele exemplo e deixou a ex de vez no passado.

Quarto da garota de cabelos castanhos, Final de 2008.

Aquele tinha sido um ano turbulento, ela havia se apaixonado de novo por alguém que lhe mexeu com as estruturas, e novamente tinha sido deixada.
Ela sentou-se em frente ao computador, entrou no Orkut, rede social que era febre na época, incluindo os jogos de RPG, que a garota adorava.
Olhou bem para o rosto daquela a qual considerava uma ponte para seus sentimentos e disse, duramente, a si mesma:
- Nunca mais. Nunca mais vou misturar sentimentos reais com virtuais. A partir de agora, é só um jogo!
O ano de 2008 terminou com ela abandonando seu jogo e sua personagem favorita, não totalmente, mas ela havia largado bem mais de lado do que costumava deixar no passado. Ela amadureceu, ela se endureceu com as pancadas que levou, se afastou para recompor, ou melhor, para construir suas defesas.
Mas a garota amava demais sua querida Angela, para deixá-la daquela forma.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Capítulo 10

Voltando para casa, Los Angeles, EUA.

Angela embarcou no voo noturno, mais barato e discreto. Saiu do alojamento dos atores no meio da noite e fugiu.
Reparou em uma moça sentada algumas fileiras à frente, na Classe A do avião, que olhava em sua direção e falava com uma aeromoça. Em seguida a mulher atravessou a aeronave e veio em sua direção.
- Queira me acompanhar, por favor.
- Eu fiz algo?
- Não, a senhorita na Classe Executiva deseja sua companhia.
A loira levantou-se e seguiu a mulher com uniforme da empresa aérea até a Primeira Classe. Lá chegando, notou como estava vazia, apenas algumas pessoas presentes ali, bem distantes uma das outras. Ela sentou-se, ao olhar para o lado, uma bela jovem loira de olhos verdes e brilhantes estava sentada ao seu lado. Baixinha, tinha um ar de menina, se apresentou.
- Meu nome é Scarlett, pode me chamar de Scar, se quiser.
- Angela. Muito prazer. Então, o que quer comigo?
A moça riu e Angela se mostrava confusa. Não houve resposta, continuaram o voo lado a lado, conversando, animadamente. Angela nunca pensou que diria isso, mas estava se apaixonando outra vez.

Em casa, Brasil.

Naquela tarde, após a escola, a garota já estava em frente ao seu computador. Ela não imaginava o que aconteceria a seguir.
Enquanto jogava, conversava com suas amigas, acabou com por conhecer, em meio à um jogo, Carol. Elas se entenderam muito bem à primeira vista e rolou uma quimica intensa entre elas, assim como entre suas personagens.
Com o passar do tempo, acabaram namorando, a mocinha de olhos verdes se via perdidamente apaixonada por aquela moça, como não se sentia desde sua primeira ex.

Los Angeles, EUA, alguns dias depois.

Angela foi para L.A. pois seu "pai" de consideração, Lucas, havia se mudado para lá a alguns meses. Ela chegou, se instalou na casa dele, contou-lhe a fria que tinha se metido e tudo que tinha acontecido durante aqueles meses que ela disse que viria e não chegou.
Em uma tarde, a loira saiu para dar uma volta, foi a alguns barzinhos e baladas. Estava começando a se enturmar novamente. Parou em uma praça, sentada no banco, olhando o céu e a paisagem, quando alguém se aproxima dela e senta-se ao seu lado. Supresa, ela sorri ao olhar a lorinha ao seu lado.
- Olha só quem encontrei por aqui.
- Scarlett, quem diria.
Sorriram uma para a outra, Scar, uma baixinha cheia de sensualidade, convidou-a para irem numa lanchonete e depois à beira da praia, seguiram assim o itinerário do passeio. Se beijaram, ambas entraram numa paixão avassaladora.
Algumas semanas se passaram e Angela já morava junto com Scar, conheceu toda sua família e descobriu algo que a espantou: Scar era uma Baronesa!

Estado de São Paulo, Brasil.

As duas moças, cada uma praticamente de uma ponto do país, começaram um namoro. De início, assim como tudo, foi perfeito.
Elas curtiam, embora o relacionamento fosse à distância. Juntas sempre que podiam na net, por altos períodos, ou por telefone, o namoro durou cerca de 8 meses, mas foi desfeito, tudo começou a ruir e a mocinha de olhos verdes se viu sofrendo outra vez.
Pela primeira vez, a mocinha de longos cabelos castanhos se viu chorando na escola, diante das amigas, por um amor que não valia a pena. Daquele dia em diante, ela aprenderia a dizer não, ela não misturaria mais um jogo com sua própria vida.

Capítulo 9

Espaço aéreo dos EUA, Classe econômica.

Angela ia pegar um avião para voltar à Santa Mônica, a sua primeira parada assim que saiu de casa. Porém, isso não chegou a acontecer.
A loira estava sem sorte naquele dia. Viu Famke embarcar e permaneceu ali, sentada. Seu voo estava dez minutos atrasado. Quando finalmente ouviu a voz de uma moça dando a primeira chamada, levantou-se e foi em direção ao embarque.
O avião, que tinha como destino a cidade de Los Angeles, parecia estar lotado de amalucados com sonhos de estrelato em Hollywood. A aeronave parecia ter sido fretada para uma trupe de atores inquietos. Ela manteve-se quieta e concentrada durante boa parte da viagem, ouvindo música ou lendo qualquer coisa. Entretando, a mecha roxa que pendia entre os fios loiros, caindo próximo aos olhos azuis, chamou a atenção de um homem que estava em uma poltrona ao lado, no corredor.
- É uma bela garota. Já pensou em ser atriz de teatro?
Confusa, a loira tirou os fones de ouvido e olhou para o homem, que aparentava ter o dobro de sua idade, no mínimo.
- O que o senhor disse?
- Não tem essa de senhor, me chame de Billy. A maioria aqui nesse avião são meus funcionários, eu agencio atores, minha querida. Gostaria de se tornar um deles?
A jovem mulher olhou em volta para algumas poltronas onde estavam as mais estranhas e diferentes figuras que ela já vira.
- Olha, eu não sei.
- Que isso, garanto que tem talento. E sua beleza a ajudará muito. Estamos indo para Hollywood, onde mostrarei os principais pontos ao meus atores, são todos novatos, como você será se aceitar. De lá iremos para a Europa, nossa turnê começará na Itália. Já se viu indo para a Itália, querida?
Ela parou para pensar, o homem continuava a falar e falar, até que, talvez por notar que a garota era decidida e difícil de se dobrar, tocou em seu ponto fraco: sua coragem.
- Será o maior desafio de sua vida!
Ela cedeu. E assim que o avião pousou, seguiram para Hollywood, passaram alguns dias lá e então foram para seu destino final: Europa.

Aula de Educação Física, Escola Estadual, Brasil.

A menina de olhos verdes havia acabado a voltar às aulas, mas estava curtindo, tinha caído na mesma sala que a grande maioria de seus amigos.
Era uma aula de educação física, as duas quadras da escola estavam tomadas por alunos jogando. Na quadra descoberta, as meninas aceitaram a proposta de um jogo de futebol. A garota ficou com suas amigas em um time: Tassi, Sol, Jéssica e Lúcia. No outro, as mais patricinhas de sua sala, as legais: Lari, Luana, Marcinha, Gi e a insuportável Jade.
Alguém que não estava jogando, Fê, amiga das meninas, filmou o jogo, a time delas ganhava descaradamente das patricinhas. Tassi e a garota de olhos verdes jovam muito bem, em contrabalanço às desengonçadas patricinhas.
Mas foi uma aula divertida, as garotas se entendiam bem, todas elas, com excessão de Jade, é claro. O dia passou.

Roma, Itália, Primeira parada da trupe, alguns dias depois.

Angela tinha chegado, finalmente. Depois de vários dias de ensaio, todos os atores estavam empolgados com a fama após a estréia. Foi então que veio a notícia.
- Usem isso. Todos vocês terão de usar durante as cenas. E você, loira, esconda essa mecha roxa do cabelo.
O gentil homem que todos acreditaram tornou-se um carrasco. Distribuiu máscaras para todos os atores, eles não poderiam ser reconhecidos por ninguém, não fariam fama alguma. O trabalho era unicamente para juntar dinheiro suficiente para custear suas passagens e sua própria estadia. O que acreditaram que era um investimento, tornou-se uma dívida para eles terem que quitar. Recebiam apenas uma mísera gratificação semanal, que mal dava para comprar uma peça nova de roupa. Os outros gastavam, em sua maioria, com coisas que Angela considerava sem importância, acreditando que aquilo seria só pelo começo de suas carreiras internacionais. Ela juntou seu dinheiro afim de comprar uma passagem de volta para casa. E assim o fez. Ficou quase três meses até ter o suficiente para voltar aos EUA. Comprou a passagem às escondidas, quando conseguiu um preço melhor, e fugiu durante a noite para o aeroporto, embarcando.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Capítulo 8

Mogi Shopping, Mogi das Cruzes, Brasil.

O ano ainda era 2007, mas estava no final. A menina Karla viria de sua cidade para a casa de seus tios, na cidade vizinha à da garota de olhos verdes.
Marcaram de se encontrar, a mocinha foi com a mãe até São Paulo, onde foi o primeiro encontro, num shopping de lá. O segundo foi bem mais perto, na cidade de Mogi das Cruzes. Karla levou os dois primos mais velhos ao primeiro encontro e a prima mais nova no segundo. Eram duas meninas legais.
A jovem moça adorou a filhota e se apegou ainda mais a ela, pois se entenderam muito bem em seu encontro. Seria seu mero engano pensar que aquele dia tinha fortalecido sua amizade.

Casa de Angela, Filadélfia, Algum tempo depois.

O tempo havia passado, Angela viu todas suas jovens filhas ficarem adultas. Jen havia saído de casa e, apesar de se encontrar quase sempre com a "mãe", Angela mal a via depois que se mudou.
Em compensação, Famke, a filha mais velha, trouxe uma pequena garota de 8 anos para casa, sua própria filha. E, aos 22 anos Angela se viu "avó".
Rach, como chamavam a pequena Rachel, era muito apegada à mãe e à avó, tinha boas relações com Jen tbm, apenas Jenna que, como sempre, não se dava bem com o restante da família.
Mas conforme o tempo ía passando, Rach se apegava mais com Jen, deixando sua mãe e sua avó de lado. As duas ficaram cúmplices, cada vez mais unidas, deixavam de lado o restante da família, o que deixava todas levemente magoadas por estarem se afastando tanto assim.

Cidade de Guararema, Primeiros meses de 2008

A jovem de olhos verdes estava conversando com sua melhor amiga virtual, Jéssica. A mesma havia lhe apresentado Beka, alguns meses atrás, fazendo-a ser "parte da família".
Porém, tanto Beka, quanto Karla, se afastaram dela, de Jéssica e de Anna. A mocinha veio a descobrir depois, por Jessy, que Karla havia lhe falado mal pelas costas, censurando-as junto à Beka, disse que se afastara delas porque eram "sapatões", que a mocinha de aparelho nos dentes e olhos verdes havia "dado em cima dela", que a tinha olhado diferente, uma coisa que nunca acontecera realmente.
A jovem de sorriso metálico considerava Karla como uma filha, tratou-a em ambos os encontros que tiveram, como uma amiga de verdade, como se fosse realmente sua mãe, mas notou que nada daquilo teve valor. Magoou-se profundamente com aquilo. Tentou tirar satisfações com a garota carioca, mas nada aconteceu. A amizade se desfez, os laços se soltaram. A família acabou.

Aeroporto Internacional da Filadélfia, Início de 2008

Depois do baque inicial, de ver sua família tranquila e os bons momentos naquela casa com aquelas garotas ruir, Angela fez as malas, queria sumir no mundo novamente. Todas eram adultas, ela não via mais Jen e nem mesmo Rach, Jenna então, não era mais da sua conta, nunca foi.
Ela olhou bem nos olhos da única filha à qual ela realmente se importava agora, acariciou-lhe o rosto, sorrindo, agora uma mulher feita, mais alta até do que a própria loira. Famke se tornara uma bela e valorosa mulher, ela se orgulhava disso.
- Nunca abandonarei você, será sempre minha filha, poderá vir passar tempos comigo ou morar comigo quando quiser, por quando tempo desejar.
A morena alta diante dela chorou. Ambas se abraçaram. Famke também estava de malas prontas. Tinha muitas desilusões amorosas ali naquele lugar, a desilusão familar acabou com o restante de vontade que tinha de continuar ali. Elas partiram.
Angela sabia que depois daquela experiência jamais seria a mesma. Ou talvez poderia ser, mas tinha em mente o quanto havia amadurecido. Isso ela jamais esqueceria.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Capítulo 7

Filadélfia, Casa da "Família Holden", 2007.

Angela realmente havia adotado aquelas duas adolescentes, poucos anos mais novas do que ela mesma, que havia, a pouco, completado seus 20 anos.
As três passaram a morar juntas, Angela arrumou um emprego fixo e ficou mais caseira, apoiava as jovens em seus problemas e conflitos. Jennifer contou, semanas depois, que tinha uma irmã gêmea, que gostaria que Angela a trouxesse para a casa também. E assim foi feito. A jovem Jenna chegou alguns dias depois, mas Angela mal sabia o problema que estava arrumando.

Saída da Escola Estadual, Brasil.


A jovem de olhos verdes saíra da escola empolgada, como sempre, dera uma volta com suas amigas pelas ruas do pequeno centro da cidade, indo até a praça, sentando para conversar.
Assim que deu a sua hora, ela despediu-se das demais e partiu. Andava um bom caminho à pé até sua casa, caminho esse que, em manhãs de pressa ao sair de casa atrasada para a escola, percorria em dez minutos, embora o normal levado fosse de, no mínimo, o dobro, para quem anda normalmente, com calma.
Ela passava pelo campo de futebol da cidade, pela rodoviária, continuava em frente, passava por um posto de gasolina, continuava. Subia uma rua paralela à avenida, então chegava em casa. Muitas vezes acontecia um fato estranho, saía da escola sob um sol de rachar e, ao chegar no posto, adiante até sua casa, era uma chuva intensa (do nada). Isso a fazia rir, outras vezes lamentar. Mas era algo diferente em sua caminhada.

Quarto das gêmeas, Filadélfia.

Jenna era uma garota difícil, problemática, desobediente. Não tinha a mesma consideração de mãe por Angela como as outras duas, talvez pela pouca diferença de idade, era exatamente o contrário, ela a desafiava cada dia mais.
Naquele dia, Angela explodiu. Jennifer havia engravidado, sensível, chorava por qualquer coisa. Jenna aproveitavasse disso para provocá-la, irritá-la. Naquela tarde, assim que chegou do trabalho, Angela se deparou com a Famke desesperada, pois Jen chorava muito e Jenna a importunava. Ela subiu direto para o quarto. Encontrou as duas moças atracadas, Jen perdia feio já que a barriga de pouco mais de 7 meses à atrapalhava um bocado.
Entrou no meio da confusão, pegou cada uma delas por uma orelha, como sua própria mãe costumava fazer com ela mesma, e alterou a voz o mais séria e grave possível.
- Peçam desculpas uma à outra. AGORA!
Jenna limitou-se a se emburrar e se debater. Gritava com a jovem mulher que lhe segurava a orelha.
- ME SOLTA! Você não manda em mim!
Jen, por sua vez, era apenas choro, mal falava ou gesticulava. Sua orelha foi liberada e um dedo estendeu-se a ela, apontando a parede onde ficava a cama dela, a qual a mocinha sentou-se e encostou-se, aos prantos. As atenções voltaram-se para a rebelde diante dela, enquanto Famke consolava a irmã de coração.
- Sua irmã está grávida. Não tem o menor senso de cuidado, não tem o menor carinho por ela, não é?
- Ela é uma chorona, não faz outra coisa a não ser chorar. Eu só faço com que fique engraçado.
- Mexendo com ela para fazê-la chorar? Muito engraçado. E batendo nela?  Você enlouqueceu?
- Me deixa, você não é minha mãe! Você é tão vadia quanto minha irmã!
Um tapa virou o rosto da jovem de cabelos castanhos, fazendo-os cair sobre ele. Ao voltar seu rosto para a loira que a segurava, agora pelo braço, cuspiu em sua direção. Aquilo foi demais, por um instante Angela se viu fazendo o mesmo que sua mãe costumava fazer com ela durante sua própria pré-adolescência. Ela arrastou Jenna, naquele momento leve como uma pena, devido a força que a raiva lhe dava. A mocinha esperneava e fazia corpo mole, não importava, foi arrastada até o banheiro, seu destino foi o vaso sanitário. Angela segurou firme os cabelos castanhos e ameaçou empurrar sua cabeça ali dentro.
- Vai se desculpar! Comigo e com sua irmã!
- Não vou!
Ela empurrou um pouco mais na direção da água.
- Vai sim! Vai se desculpar!
- NÃO!
O não alto dela a despertou daquele transe, viu suas outras duas "filhas" olhando-a apavoradas. Jen ainda chorava, agora ainda mais descontroladamente. Angela soltou Jenna, que caçoou dela assim que se viu livre e se levantou. A loira se aproximou e deu um empurrão leve na mocinha rebelde, fazendo-a cair dentro da banheira cheia. Essa parte era improviso seu, porque antigamente sua mãe realmente enviava a sua cabeça dentro privada e dava desgarga, chamando-a por palavrões. Ela deixou o banheiro das garotas e foi para seu próprio quarto, atordoada. Mas aquele banho deixou o clima mais leve, Jen ainda soluçava, o rosto molhado de lágrimas, mas agora ria, da estressadinha que se erguia da banheira, ensopada.

Em casa, após a escola, Brasil.


Já fazia algum tempo que ela havia chegado, viu um pouco de tv e tirou um leve cochilo assim que começou a passar o Pica-Pau. Assim que acordou, olhou as horas, desligou a tv e foi direto para o computador.
Ali, encontrou suas duas melhores amigas, Jéssica e Karla. A segunda disse que queria lhe apresentar alguém, talvez mais uma "filha" para a família. A mocinha conheceu então Anna. A princípio não tiveram uma amizade muito boa, Anna era fechada e parecia não confiar nela, não deixar se aproximar.
Mas naquela tarde e noite, juntaram-se um pouco mais, seus jogos as fizeram rir, embora ouvesse conflito na tela, fora dela as quatro riam e comentavam, dando opiniões para a cena e surpreendendo-se com as coisas que aconteciam.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Capítulo 6

Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos, 2007.

O ano havia mudado, o endereço também. O local escolhido por Angela, dessa vez, foi do outro lado do país, a Pensilvânia, mais precisamente: a Filadélfia.
Ela queria fugir de seu próprio destino, queria esquecer a sensação de estar apaixonada e deixar de lado suas preocupações com Marg. Queria sentir-se livre, queria voltar a estudar, trabalhar. A parte do estudo Angela deixou de lado, como sempre, e acabou fazendo alguns trabalhinhos na cidade.
Como era de seu feitio, logo fez amizades, uma turma legal na qual ela se concentrava para esquecer a anterior, de Vegas, e assim poder esquecer também Marg. Entre eles, Angela encontrou as jovens Famke e Jennifer, pelas quais sentia um carinho enorme, não de romance, mas de fraternidade, talvez até mais, pois tinha uma proteção e cuidado com essas garotas como se fosse sua mãe, acabou ganhando delas esse apelido: Mamy.

Brasil, Primeiro ano do Ensino Médio, 2007.

A mocinha de olhos verdes iniciava outra jornada de sua vida, agora no ensino médio, teve que perder uma de suas melhores amigas para a distância.
Ela sempre experimentara a dor de perder amizades ao longo do tempo, pois mudava-se constantemente, tanto de casa quanto de escola, dessa vez ela ficou, porém a amiga acabou indo. Aquela seria ainda a primeira. Próximo ao meio do ano, perdeu sua outra melhor amiga para o mesmo inconveniente: distância. Ela casou-se ainda jovem, com apenas 17 anos, estando grávida e deixando a escola naquele mesmo ano.
Mas a jovem de olhos verdes ainda conseguiu se reeguer, conheceu outras garotas na escola, passou a ser parte de um grupo diversificado, encontrou outra melhor amiga: Tassi.
Fora da escola, as amigas da vez eram Jéssica e Karla, feitas pela internet e das quais tinha muito carinho, tanto que as chamavam de filhotas.

Zoológico, Filadélfia, Alguns meses depois.

Foi um dia bem proveitoso e tranquilo, conseguiu visitar o Zoo inteiro naquele dia. A tarde começava a se iniciar, ela decidiu voltar para casa. Entretanto, ela não era alguém que passava uma noite de sábado em casa. Logo se arrumou, saiu novamente, foi aos lugares mais badalados, encontrou gente interessante, mas seu ser pegador estava um pouco apagado, ainda sentia falta da garota que encontrara em Vegas.
- Que isso, Angela, se anima garota. Você é linda e estou vendo... - o amigo olha ao redor - Pelo menos umas cinco pessoas olhando nessa direção.
- Pessoas? - A loira brinca, erguendo sua sobrancelha arqueada para analizar o amigo, sabia que entre aquelas "pessoas" havia, ao menos, uma garota.
O rapaz deu de ombros, tornou a olhar em volta e respondeu a amiga:
- Agora tem, no mímino, uma meia duzia.
Ambos riram. Talvez fosse melhor encontrar alguém mesmo, não queria saber de relacionamentos ou de mulheres, mas talvez um beijo ou outro no bonitão na outra ponta do balcão não fosse assim tão mau.

Casa da amiga, Aula vaga.

Todas saíram da escola rindo, tinham uma aula vaga pela falta de um professor e saíram todas mais cedo. Tassi morava na rua de trás da escola, foram todas para lá. Conversaram e riram o restante da manhã, a jovem foi embora apenas depois do almoço.
Chegando em casa, ela ficou conversando com seu vizinho, um cara legal, pintor (desenhava muito bem) e roqueiro, que vez ou outra era ouvido de dentro da casa dela, cantando no quintal, uma voz não muito afinada, por sinal.
Naquele dia não houve incidente do padrasto a pegar conversando com ele e passaram a tarde toda num papo animado. Ao final da conversa, ela entrou, a mãe ainda não tinha chegado do trabalho, então ela foi para o computador. Lá encontrou Jéssica e Karla e ficaram conversando animadamente, ou jogando, outro hobby de todas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Capítulo 5

Outubro de 2006, residência da mocinha de olhos verdes.

Ela estava empolgada, apesar do fim de seu namoro, ainda amava Luna e sentia que, por mais problemas que tivessem, no fundo aquilo era mútuo.
Marcaram um dia para se encontrar em um famoso parque de diversões. Ambas contavam os dias para se conhecerem pessoalmente, tornar a amizade sólida ao se verem, esperavam o mês passar de forma ansiosa, seria uma conquista para Luna aquela viagem e para a jovem garota paulista, uma oportunidade.

Outubro de 2006, Las Vegas.

Angela logo se enturmou com vários jovens, rapazes e moças, que também estavam em Vegas pela primeira vez. Estavam em uma tuor pelas atrações da cidade, visitavam os cassinos e tiravam fotos em frente aos mais diversos pontos turísticos.
A loira foi à diversos bares da região, dançou loucamente, bebeu, beijou, deu muita risada com os novos amigos. Foi em um desses bares que ela aprendeu a fazer malabares com garrafas e abri-las com uma faca, o que a surpreendeu mais. O tempo foi passando, estranhamente ela ainda sentia aquele ar apaixonado que não era típico, logo avistou alguém com quem esse ar tomou forma.

18 de Novembro, PlayCenter, São Paulo.

O dia marcado finalmente chegou e as duas se encontraram no parque de diversões. Se divertiram, a jovem estava com o coração apertado de ansiedade, talvez algo a mais acontecesse entre as duas, engano seu, ficaram na amizade.
A moça convenceu sua amada a ir em montanhas-russas e no Castelo dos Horrores, onde a mesma fez com que ela perdesse um de seus anéis, de tanto apertar sua mão. Foi um dia perfeito, as duas foram embora no fim da tarde, a partir daquele dia sabiam que seriam parte da vida uma da outra para sempre. Não importa como fosse.

Las Vegas Strip, 20 de novembro.


Ela ficou com a imagem daquela mulher em sua mente, sentia que esse seu ar apaixonado emanava até ela.
- Mas como? Nunca a vi antes.
Uma colega de quarto a ajudou, por conhecer a cidade melhor do que Angela, ela acabou por encontrar a mulher que despertara amor em sua amiga.
- O nome dela é Marg, Angel. Ela mora aqui em Vegas, posso dizer onde encontrá-la.
Angela seguiu as intruções da amiga, não foi difícil para ela encontrar a loira que chamara sua atenção alguns dias atrás. Elas conversaram, o entrosamento entre elas foi instantaneo, como se Angela já a conhecesse, como se conhecesse sua alma. Mas, como estava marcado para ser, não daria certo o relacionamento entre as duas, elas tentaram, mas não conseguiram ir adiante, porém a amizade ficou, elas sentiam que seria para a vida toda.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Capítulo 4

Algum dia à tarde, em Julho de 2006.

Era um dia como outro qualquer até então, a garota ocupava-se em seu computador buscando fotos, com todo o empenho possível, de sua atriz favorita, Angelina Jolie.
Ela tinha em mente os elogios de uma certa garota que conhecera em um blog que possuía, justamente daquela atriz. A menina simpática e com um ar melancólico, que fizera o coração dela dar pulos assim que se conheceram, sempre a visitava em dias de novas postagens. Estava ansiosa por conversar com ela, ficavam cada dia mais amigas, mais íntimas.


Julho de 2006, Las Vegas, Nevada.

- Desde o princípio eu disse que não teria raízes.
Foi o que loira disse a si mesma e aos amigos quando partiu de Santa Mônica naquela manhã. Pretendia ir à Las Vegas e chegar ao anoitecer, quando a cidade estivesse pegando fogo em seus cassinos e hotéis explendorosos.
Angela sentia-se estranhamente atraída para aquela cidade, talvez porque fosse uma aventura e ela gostava de considerar-se aventureira. Embora estranhasse o fato de estar com um ar apaixonado que não sabia de onde vinha, era algo que vinha de dentro, que ela não controlava.

Sua chegada à Vegas foi do modo como esperava, no final da tarde, após um cansativo dia de viagem atrás de um volante. Estava anoitecendo quando ela entrou na cidade com o velho jipe, seus olhos claros refletiam as luzes dos letreiros, ela sorria. "Quem disse que Paris é a cidade luz nunca deve ter vindo para Vegas." Ela riu com o pensamento e tratou de ir ao local que arrumara para se hospedar.

Um mês depois, em alguma parte da internet.


As meninas trocavam confidências, estavam íntimas o suficiente para se apaixonarem. A conversa era frequente, o sentimento mútuo. Luna, a menina de outro estado, pela qual a jovem havia se apaixonado, tinha lhe confessado estar apaixonada por ela também. Saiu de seu antigo relacionamento, mostrando à mocinha de olhos verdes (ou como sua amada dizia "Para mim são azuis.") que estava disposta a ficar com ela de verdade, e ambas deixaram o tempo cuidar do restante. O namoro entre elas durou aproximadamente um mês, talvez o mês mais turbulento da vida dessas duas garotas, tendo começado em meados de julho e terminado próximo ao fim do mês seguinte. Porém depois disso suas vidas estavam seladas, a amizade permaneceu, assim como o amor entre elas. Nenhuma das duas garotas conseguia definir o relacionamento que tinham, nem mesmo as condições de seus sentimentos.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Capítulo 3

Third Street Promenade, meados de Junho de 2006, 13hs.

- Esse lugar é perfeito!
Foi a exclamação de Angela ao ser levada por James, o rapaz conhecido algumas noites atrás no Píer, para o Third Street Promenade, um complexo de lojas, restaurantes e entretenimento, um point dos turistas e artistas. Aquilo a encantou, jamais tinha visto algo do tipo, aquela cidade era grandiosa.
Esse ato só contribuiu para que Angela se apaixonasse pelo rapaz, eles criaram uma forte amizade e muita intimidade. Ambos tinham uma química muito forte que fazía com que nenhum dos dois conseguisse ficar perto do outro sem se tocarem, sem que encostassem um no outro, ao menos por alguns instantes. Como era o esperado, dormiram juntos. Um certo tempo depois, ele apresentou à Angela sua noiva, para surpresa da loira, uma de suas primeiras amigas ali, Jen, a qual residia com ela na república e a qual a mesma tinha muita consideração e estima. Sentiu-se culpada.

Residência, São Paulo, 15hs.

A garota se mantinha fixamente atenta ao que lia no monitor. Sua mente viajava. Ela estava se deixando levar pelas emoções causadas por aquela sensação de conforto.
Demorou alguns dias para que viesse a decepção.
- Eu sabia, tinha que ser. Eu não acredito nisso!
O baque foi forte, foi quando ela percebeu que deveria evitar, à todo custo, que aquilo continuasse. Foi em vão.

Festa na casa de James, sábado à noite.

Foi durante uma festa que Angela novamente cedeu ao seu amado proibido. A amiga, noiva do rapaz, não compareceu, para piorar a situação, insistiu na ida da loira até a casa de James. A festa durou pouco, logo eram apenas ambos no quarto se deixando entregar. Ele lhe fazia juras de amor, que no fundo Angela sabia não serem inteiramente à ela, sentia, em sua consciência, uma vozinha que dizia para não cair nessa. Ela não dava ouvidos. No fundo, sabia que sua consciência também estava se deixando levar por tudo aquilo, era como se até sua consciência, por mais que tentasse resistir, estivesse se apaixonando por ele.
Por um período, Angela levou seu relacionamento secreto adiante aos trancos e barrancos. Tentava sempre desvencilhar-se do rapaz, embora sempre cedesse aos seus assédios. Ela desejava por um ponto final.

São Paulo, duas semanas depois, sexta à tarde.

Aquilo era demais, como podia estar fazendo isso? A moça respirou fundo e rolou uma lágrima de seu rosto. Era injusto, era errado.
- Isso tem que acabar. Eu não posso ficar sofrendo assim por alguém que não é meu, pior ainda, alguém que é de outra. Eu vou tirar você da minha vida, Thiago, de qualquer jeito.
Foi com essas palavras determinadas em sua mente que ela sentou-se diante do computador e esperou pelo jovem a tarde quase toda. Encontrou-o no começo da noite, decidiu-se e criou coragem para acabar de vez com tudo aquilo que viviam, antes que ela própria se apaixonasse ainda mais e o sofrimento fosse maior quando se machucasse.

Quarto de Angela, duas semanas depois, sexta à noite.

- Está decidido James, o que aconteceu entre nós não vai se repetir. Podemos ser amigos, mas não vai tocar em mim de novo. Jennifer será sua mulher, você deve se dedicar exclusivamente à ela.
A conversa foi longa, houve apelos para que nada mudasse, mas ela se manteve firme. Com um selinho, roubado por ele, uma última carícia no rosto dela, olhando-a nos olhos, ambos se despediram. Desde então, continuaram amigos, porém não se encontravam mais às escondidas. Foi um mês atribulado, mas assim que as coisas esfriaram, cada um tomou seu rumo e seguiu sua vida à sua maneira. James e Jennifer se casaram, passaram a morar juntos. Angela foi madrinha do casamento.

Capítulo 2

Píer de Santa Mônica, Estados Unidos, 20hs.

A roda gigante do parque girava iluminada, o carro da montanha-russa fazia os cabelos de Angela voarem em todas as direções. Assim que desceu do brinquedo, ela foi em direção à praia, respirou fundo o ar de maresia e sentou-se na areia, olhando o Pacífico à sua frente.
- Tão imenso, como todas as minhas oportunidades.
A moça acabara de se instalar na casa de um rapaz com o qual se identificara muito, não de forma sexual ou romântica, mas afetiva. Ele ficou conhecido como seu "pai postiço", pelo modo cuidadoso como tratava a moça e a protegia.
Angela já fizera uma grande quantidade de amigos em seu primeiro dia por ali, estava satisfeita com o que a vida estava lhe dando. A única coisa à qual ela não entendia era a si mesma. Estava perturbada naquele dia, embora não pudesse entender o por quê. Tentava a todo custo manter-se natural, mas as patadas em alguns amigos saíam com uma facilidade maior do que a esperada.

Sala da 8ª série, Escola Estadual, Interior de SP, 12:00hs.

- Ai, ela tá azeda hoje, melhor deixar ela quieta. - disse uma das amigas da garota emburrada que estava vestida de preto da cabeça aos pés.
- Não, ela vai rir, ela não aguenta. - Disse a outra amiga que tentava fazer gracinhas com a moça que resistia bravamente.
Chegou a hora da saída dos alunos, as duas amigas riam e tentavam arrancar palavras da emburrada. Ela conversava com as amigas, estava séria, com a blusa preta de capuz, colocado na cabeça tampando uma parte de seu rosto, parecia uma marginal. Sua paciência era curta, era explosiva. Falava à sério com a melhor amiga, que mantinha-se rindo.
- Dá pra parar de rir que eu tô falando sério? Acha que sou palhaça?
Um aceno de cabeça confirmando foi a gota d'água para a garota explodir. Pegou a amiga, alguns centímetros mais baixa que ela, pelo pescoço e esgueu junto ao muro, apertando-o.
- Vai parar de rir agora?
Sua atitude explosiva acabou gerando mais risadas das duas, a garota ergue-a mais um pouco. Um casal passou e a mocinha livre que ria viu:
- Para de brincadeira, tem gente olhando já.
O modo como saiu caçoado enlouqueceu a agressora. Quando notou que a amiga interrompeu o riso com uma tosse, provavelmente porque o recém aperto mais forte tivesse lhe tirado agora o ar, ela a soltou e saiu andando em disparada rumo à praça da igreja, deixando a que ria e a que se recuperava, rindo, às suas costas.

Banco do parque de diversões do Píer.

Uma pausa, talvez apenas uma pausa fosse o suficiente para Angela se acalmar. O excesso de pedidos de desculpas por estar tacando pedras em pessoas legais já a estava incomodando. Respirou fundo, um rapaz se aproximou, conversaram. Conseguiu se comportar decentemente porque o cara era alguém muito interessante, inteligente, não dava brechas para suas patadas, fez com que a loira até mesmo se esquecesse delas e levasse tudo em uma grande brincadeira. Aquele era o começo de uma bela amizade.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Capítulo 1

Interestadual 10W, Estados Unidos, Março de 2006, aproximadamente 18hs.

- Me chamo Angela, tenho dezessete, quase dezoito anos. Sabe aquela sensação de ter caído no mundo de paraquedas? Essa é a sensação que eu tenho.
- Nasci em Phoenix, no Arizona, mas não tenho qualquer lembrança da minha vida, pelo menos até meus quinze anos. A única coisa que tinha era um presente escroto em uma cidade onde eu não me encaixava. Meus pais não me entendiam, eu não parava em nenhuma escola. O ápice? Quando descobriram que eu namorava uma garota no colégio. Me expulsaram de casa. Já estava com vontade de fugir, aquilo me serviu de impulso. Onde estou agora? Rumando para Santa Mônica, com o jipe da família. É, acho que meu velho deve ter se arrependido de ter me dito pra pegar minhas coisas e sumir. Era eu quem dirigia esse jipengo desde antes dos dezesseis, então agora ele é meu.
- Escolhi Santa Mônica como primeira parada. Tem muita gente por lá, turistas, tem empregos, vai ser mais fácil para eu me estabilizar. Se vou fincar raízes? Não. Eu não sou uma árvore, estou mais para um grão de areia, levada pelo vento e, no momento, o vento está me levando até lá.

Interior do estado de São Paulo, Brasil, Março de 2006, 17:30hs.

Escola durante a manhã toda, o restante do dia sozinha em casa. Uma conversa sobre o muro com o vizinho. Um padrasto que chega e se estressa ao ver a cena. Alguns cascudos. Lágrimas.
- Como eu queria estar longe daqui. Angela, preciso tanto de você agora.
Ela se senta à beira da cama e pega um caderno surrado, mas guardado com todo carinho e às escondidas de olhos curiosos. Escreve, segura suas lágrimas, guarda-o. Algum tempo depois, lá está ela, em frente ao seu computador, tentando se distrair, se reconfortar.

Santa Mônica, Califórnia.

- Finalmente, cheguei! Ah, o cheiro da maresia! Isso sim é um ótimo lugar para se recomeçar.
O jipe foi estacionado próximo à areia e despertou olhares. Provavelmente por seu estado precário, ou ainda pela bela loira de olhos claros que descia do banco de motorista.
Alguns passos, o pé tocou os grãos ao qual ela tanto se identificava, então disparou em uma corrida para a água e deu o seu primeiro mergulho naquele mar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Postando pela primeira vez!

Apresentação...


Olá, sou a narradora da história que lerão nas próximas postagens, sobre os acontecimentos da vida de algumas pessoas...que não existem nesse nosso mundo.
Aí vocês dizem: "Em toda história fictícia as pessoas não existem." E eu digo à vocês que essa história é real para as pessoas envolvidas. Elas não existem para a maioria das pessoas, só que entre elas, são tão vivas quanto nós. A vida em paralelo, do real e do imaginário, ambas se interferindo e se completando
Sei que é confuso, mas espero que gostem, pretendo postar várias histórias sobre as personagens, afinal, é o diário delas. Entretando, vamos com calma, o ano só começou, assim como o blog, que ainda tem muito pela frente.

XoXo